Amara

Decidi que não seria figurante na história dele. Se Damian queria muralhas, eu aprenderia a caminhar por cima delas de salto. Comecei pequeno: deixei mensagens sem resposta, ignorei dois toques de Victor, atrasei-me dez minutos para um jantar com investidores. O suficiente para a máscara do mundo continuar inteira e, ainda assim, para testar as bordas do domínio dele.

— “A senhora está a caminho?” — Victor escreveu.

Enviei um coração vazio e fechei o telefone. No espelho, prendi o cabelo devagar demais, passei batom como quem assina um tratado. Quando, enfim, saí, Damian já me esperava na sala, terno escuro, relógio caro, silêncio caro.

— O carro nos aguarda, — disse, medindo sílabas.

— Ele sabe esperar, — respondi, calçando os sapatos com tranquilidade. — Você também.

O músculo do maxilar dele marcou o que o rosto não expressou. Descemos. No jantar, mantive sorrisos calculados e deixei perguntas penduradas no ar só para ouvi-lo preenchê-las. A cada brinde, sentia o fio da paciê