— Seja bem-vindo de volta ao lar, tio Ícaro — disse Davi, com um sorriso enviesado, carregado de veneno. A voz cortou o silêncio que ainda pairava no gabinete como uma lâmina.
Todos se voltaram ao mesmo tempo.
Ícaro permanecia de pé, ao lado do corpo de Pedro, como uma sombra que ganhara forma. A luz amarelada das janelas revelava os traços marcados de um lobo endurecido pelo tempo: olhos estreitos, barba por fazer, pele castigada pelo sol e pela terra. Tinha o corpo largo, coberto por um casaco escuro e sujo de sangue seco, e o olhar gélido de quem já não devia nada ao mundo. Um homem cuja presença fazia o ar parecer mais denso. Um exilado.
Camélia manteve-se sentada, o coração martelando contra o peito. Ela não conhecia aquele homem, mas a forma como os outros o olhavam a alertava mais do que qualquer apresentação formal. Algo nele era errado. Intenso. Perigoso.
Ricardo se afastou da porta e foi se aproximando com lentidão. Os olhos cravados em Ícaro.
— Não acredito que est