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Capítulo 8: O peso da promessa

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O vento parecia mais frio do que antes, cortando minha pele enquanto eu me ajoelhava ao lado de Sofia. O som do trânsito, das pessoas passando, tudo parecia distante demais, como se o mundo lá fora não percebesse que o meu estava desmoronando.

Margo olhava em volta, inquieta, como se cada segundo de espera fosse uma ameaça.

— Aurora, quem é essa pessoa pra quem você acabou de ligar? — ela perguntou, curiosa e desconfiada.

— Margo... — respirei fundo. — Prometo que conto depois. Agora não é a hora certa.

Nós duas sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, eu teria que contar tudo. Mas não ali. Não com Sofia respirando curto ao meu lado.

Passaram-se três, talvez cinco minutos, e nada dele aparecer. Comecei a me perguntar se ele viria mesmo.

— Aurora... ele vai vir mesmo? — Margo insistiu, sem conseguir esconder a desconfiança.

— Ele disse que vinha. — Tentei soar firme, mas minha voz vacilou.

Sofia apertou meus dedos, tão fraca que quase chorei de medo.

— Fica... comigo... — pediu, a respiração cada vez mais irregular.

— Eu tô aqui. Não vou a lugar nenhum.

O som de pneus freando bruscamente cortou o ar. Duas SUVs pretas pararam no meio-fio; as portas se abriram antes mesmo de o carro imobilizar. Ele desceu primeiro — terno escuro, expressão fechada, como se não existisse nada além daquele momento. Atrás dele, dois homens de preto correram até nós.

Do outro carro, desceram mais três. Eu nem me preocupei em reparar quem eram.

— Ela? — ele apontou para Sofia.

— Sim... — respondi, a voz presa na garganta.

Ele não perdeu tempo. Um dos homens tirou uma maleta médica do carro, ajoelhou-se ao lado de Sofia e começou a examiná-la. Outro abriu a porta de trás, preparando espaço.

— O que ela tem? — perguntei, sem conseguir disfarçar o pânico. Eu já sabia a resposta, só não queria acreditar.

— Agora não é hora de falar, é hora de agir. — ele respondeu, firme, quase áspero, mas os olhos não saíam de mim.

Em menos de um minuto, Sofia já estava acomodada no banco de trás, com um respirador improvisado.

— Você vem também. — Ele segurou meu braço, guiando-me até o carro.

— E a Margo? — olhei para trás.

— Ela vai junto. — Fez um gesto rápido, e Margo foi colocada no banco do passageiro do outro carro.

Quando a porta bateu, senti o coração disparar. O motor rugiu e o carro arrancou, deixando a esquina para trás como se fugíssemos de um perigo invisível. No banco, segurei a mão de Sofia e rezei para que aquele acordo não tivesse sido a pior escolha da minha vida.

Os minutos, que pareceram horas, nos trouxeram até a entrada do hospital. Já havia uma equipe nos esperando. O próprio Leonardo ajudou a retirar Sofia do carro e colocá-la na maca. Seguimos todos até dentro; nos mandaram ficar na sala de espera.

Sentei, mas minhas pernas tremiam como se eu ainda estivesse em movimento. Apertei as mãos, juntei os dedos e orei ao Deus Todo-Poderoso para que salvasse a minha irmã.

— Aura? — era Margo; eu tinha chegado primeiro com Leonardo, mas ela veio correndo do outro carro e me abraçou. — Onde está a Sofia?

Retribuí o abraço, tentando me segurar.

— Ela está na sala de observação. Ainda não disseram nada. — a voz falhou, o coração na mão, as lágrimas urgindo para sair.

— Tá... você, melhor do que ninguém, sabe como essas coisas funcionam, né? — Margo respirou fundo. — Então... esperar.

Eu sabia. Já tinha visto tanta gente desesperada naquelas salas, durante o estágio. Saber o protocolo não significava sentir menos.

— É... eu sei. — passei as mãos no rosto. — Mas isso não quer dizer que não dói. É insuportável estar do outro lado da porta.

— Vai ficar tudo bem, Aura. — ela apertou minha mão. — Agora você pode me explicar quem são aqueles homens?

Segui com os olhos a direção que ela apontava. Leonardo estava do outro lado da sala, conversando com um homem de terno. Pareciam falar baixo, mas com urgência.

Na verdade, eu não sabia o que dizer a Margo. Que tipo de desculpa existia? “Margo, esse é o homem que me propôs um casamento de fachada no dia do enterro do meu pai e que também pode pagar o tratamento da Sofia”? Não. Definitivamente não. Margo mataria nós dois.

Respirei fundo. Não tinha alternativa — e mentir bem nunca foi meu talento.

— Margo? — virei para ela. — Ele... é meu namorado.

Falei rápido, de olhos fechados. Silêncio. Abri um olho.

Margo me olhava como se eu tivesse virado outra pessoa.

— O QUÊ?!! — o grito ecoou mais alto do que o rugido de um T‑Rex.

— Shhh! Margo, estamos num hospital. — tapei a boca dela. Leonardo e o “amigo” olharam na nossa direção. Fiz um aceno com a cabeça, tentando dizer “tá tudo bem”. Graças a Deus, ele voltou a conversar.

Suspirei. Voltei a encarar Margo, que continuava de olhos arregalados. Tirei a mão da boca dela.

Ela ficou me encarando com a boca aberta. Eu tentava fechá-la com os dedos, ela abria de novo. Cinco minutos — e quando digo cinco, acredite — se passaram assim, até que ela sussurrou:

— Como assim ele é seu namorado? E o Enzo?

Pois é. Eu ainda não tinha contado. Em menos de quarenta e oito horas, o mundo tinha virado de cabeça para baixo — e eu mal respirava.

— Olha, Margo, eu prometo que te digo tudo... depois, tá? — pedi. — Só me dá um tempo. E aqui não é lugar.

— Eu sei. Mas... quem é aquele cara, Aura? De onde ele—

— Familiares de Sofia Lemos? — uma voz masculina nos interrompeu.

Viramos ao mesmo tempo. O médico que tinha levado Sofia se aproximou, prancheta na mão, rosto sereno.

— Somos nós. — respondi.

O médico olhou por cima do meu ombro. Segui o olhar dele e vi Leonardo se aproximando. O outro homem se afastou, discretamente.

Só quando Leonardo parou ao nosso lado o médico começou a falar:

— Boa tarde. Sou o doutor Romano, responsável pelo caso da Sofia. — alternou o olhar entre nós e a prancheta. — Ela passou mal por causa de estresse e pressão emocional. Agora está estabilizada, mas precisa de repouso e acompanhamento. Nada de emoções fortes por um tempo.

Soltei o ar que estava prendendo, agradecendo em silêncio a Deus. Margo suspirou aliviada. O semblante de Leonardo continuava fechado, mas o olhar suavizou — eu vi.

— Senhora Aurora, nós dois sabemos qual é o problema real da sua irmã. — a voz do médico ficou mais grave. — E parece que ela não fez uso dos medicamentos nos últimos dias.

Meu coração disparou. Como assim?

— Doutor, como assim ela não está tomando os remédios?

— O exame de sangue não mostrou resíduos dos fármacos habituais. — disse com certeza. — Isso indica que ela não usa há alguns dias.

A vergonha e a culpa me incendiaram por dentro.

— Eu não tinha percebido... meu Deus, que tipo de irmã eu sou? — levei a mão à boca. — Hoje, quando abri os frascos, já estavam vazios. Devem ter acabado faz tempo.

— Ela precisa iniciar um novo protocolo, com outros medicamentos, urgentemente. — explicou. — Os anteriores já não estão ajudando.

— E quanto eles custam, doutor? — perguntei, mas ele desviou o olhar para trás de mim — para Leonardo.

— Isso já está sendo resolvido, senhora Aurora. — a resposta foi rápida, segura. — Mas os medicamentos não são uma solução definitiva, assim como os anteriores não eram. Ela precisa de um transplante de coração. Se não começar o tratamento agora, o coração pode falhar novamente.

— O quê? — minha voz saiu num fiapo. — Como assim... o coração dela...? — engoli em seco, sem conseguir terminar a frase. — Para o transplante acontecer, ela precisa entrar na lista de espera, não é?

— Sim. — ele assentiu. — E já está. Eu cuidei de tudo.

Um alívio cortou o peito como um sopro de ar. Eu me agarrei a isso, à palavra esperança. Mas o médico não terminou.

— Mas... — ele respirou, pesado.

Eu cerrei os dentes. Por que tem que haver sempre um “mas”?

— Mas o quê, doutor?

— Estar na lista não é garantia de transplante. — disse, calmo, porém firme. — Ela precisa de um doador compatível. E, infelizmente, a Sofia já não tem muito tempo.

As palavras me atingiram como um empurrão no escuro.

— Como assim, doutor? De... de quantos anos estamos falando? Quanto tempo resta pra minha irmã?

Ele hesitou um segundo, o suficiente para o chão sumir sob os meus pés.

— Um ano e dois meses. No máximo.

Tudo girou. Senti o corpo ceder, mas mãos firmes me seguraram — grandes, quentes. Não era isso o mais importante; o mais importante era que, em poucos meses, eu podia perder a única pessoa que me restava. Margo deslizou pela parede, as mãos na boca, os olhos marejados. Eu fiquei abraçada a Leonardo — não porque queria, mas porque não consegui ficar de pé.

— Eu... — tentei falar, mas a voz não vinha. O médico continuou, medindo as palavras:

— Vamos estabilizá-la, iniciar o novo protocolo e acelerar todos os exames de compatibilidade. Também vamos colocar prioridade máxima para internação quando um coração compatível surgir. — olhou para mim com gentileza. — Agora, mais do que nunca, ela precisa de você tranquila. Nada de brigas, nada de sustos.

Assenti, ainda atordoada. Eu prometi a ela que salvaria sua vida. Como vou cumprir?

Senti Leonardo apertar meus ombros, firme, como se dissesse sem palavras: eu não vou deixar você desabar. Eu quis afastar a mão dele por orgulho. Não afastei.

— Posso vê-la? — perguntei, baixinho.

— Daqui a pouco. — respondeu o doutor. — Ela está sedada. Vou voltar com novas informações assim que possível.

Ele se afastou. Ficamos nós três — eu, Margo e Leonardo — num triângulo de silêncio difícil. Margo enxugou o rosto com a manga da blusa, caminhou até mim e me abraçou de lado.

— A gente vai dar um jeito, tá? — sussurrou no meu ouvido. — Nem que seja o jeito mais maluco do mundo, a gente vai dar.

Fechei os olhos. O corredor cheirava a antisséptico e esperança frágil. Eu não podia perder a minha irmã. Eu não ia.

Meu Deus, o que eu vou fazer?

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