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Capitulo 9: O Jardim das cláusulas e condições

Aurora

O jardim do hospital era silencioso, um refúgio escondido no meio do concreto e do caos. Caminhei até lá logo após receber a notícia do médico. Era um espaço lindo, repleto de cores vivas: rosas vermelhas que ardiam contra o verde das folhas, margaridas que lembravam a simplicidade da infância, e uma árvore enorme que projetava sombra sobre um banco de pedra. No centro, havia uma fonte delicada, e no topo dela uma escultura de sereia cuspindo água. Tudo parecia uma junção harmoniosa de beleza e paz.

Se não fosse um dia tão triste, eu teria me jogado naquela relva imensamente verde, deixando o mundo desaparecer por alguns instantes.

Sentei-me no banco, tentando respirar fundo, tentando lembrar a mim mesma de que ainda havia beleza no mundo, mesmo quando tudo parecia ruir. Olhei para o céu azul claro e, por um momento, desejei estar em outro lugar, em outra vida.

Estava ali porque não nos permitiram ver Sofia — ainda estava sedada. Meu coração doía tanto que parecia prestes a saltar pela boca. Eu não sabia o que sentir, não sabia como suportar a angústia, mas precisava me recompor. Precisava estar inteira quando minha irmã acordasse.

Suspirei e deixei os olhos vagarem pelo jardim. Já que não havia nada mais a fazer, restava apenas esperar. Ah, sim… quase me esqueci: depois da notícia, Margo levou nossas coisas para o apartamento dela. O motorista de Leonardo a acompanhou.

O hospital, imponente e luxuoso, não deixava dúvidas sobre o quanto custava caro. Era o Cardiovida, referência em São Paulo, o mais caro e renomado na área de cardiologia. Com certeza, Leonardo estava pagando tudo, como prometera, caso eu aceitasse o contrato.

Respirei fundo. Foi então que ouvi passos. Firmes, cadenciados, inconfundíveis. Virei o rosto e o vi se aproximando. Leonardo caminhava com a calma de quem já havia tomado uma decisão, enquanto eu ainda me perdia em dúvidas.

Quando parou diante de mim, fixou os olhos nos meus.

Ele era lindo. Seus cabelos loiros esvoaçavam levemente com o vento, e o sol da tarde desenhava contornos perfeitos em seu rosto. Era, sem dúvida, o homem mais bonito que já vi. Mas sua expressão séria, os olhos frios como gelo, me fizeram sentir que olhava para um bloco de pedra inquebrável.

Sem dizer nada, estendeu a mão. Em seus dedos, um envelope branco.

Olhei com surpresa e receio. Surpresa, porque não imaginava que ele faria isso justamente agora, depois da notícia devastadora. Receio, porque aquele envelope simbolizava meu destino: eu me casaria com um homem que não conhecia, que não amava. Não que tivesse amado verdadeiramente Enzo, mas ao menos havia algum sentimento por ele.

— Aqui estão todas as condições. Quero que leia. — disse, firme, sem hesitação. — O contrato está pronto. Veja se deseja acrescentar algo.

Meu coração apertou. A lembrança de Sofia desmaiada ainda me feria, e a notícia sobre sua recuperação lenta ecoava como uma sentença. Eu queria gritar que não era hora, que precisava de mais tempo.

Abaixei o olhar. Não tinha forças para encarar aqueles olhos frios, sem um traço de compaixão.

— Leonardo… não é o momento certo. Minha irmã… você sabe o que aconteceu. E agora… você aparece com isso? — minha voz falhou.

Ele permaneceu imóvel, os olhos fixos em mim. Nenhuma palavra, nenhuma emoção.

Fechei os olhos e respirei fundo. Quando os abri, o contrato ainda estava diante de mim, inevitável. Talvez desde o início eu nunca tivesse escolha.

Peguei o envelope com as mãos trêmulas.

— Quer saber? Fui eu quem ligou para você. Então… tudo bem. Eu aceito.

Por um instante, um alívio quase imperceptível cruzou seu rosto. Sem acrescentar nada, apenas fez um gesto afirmativo.

Abri o contrato. As cláusulas eram diretas:

1. Um casamento estritamente de contrato.

2. Nada de intimidade sexual.

3. Dormiríamos em quartos separados.

O casamento teria duração de um ano. Eu deveria estar disponível em todos os momentos que ele precisasse de mim — jantares de negócios, eventos sociais, qualquer situação que exigisse a presença de uma esposa. Ao final desse período, eu receberia uma quantia significativa em dinheiro. E o tratamento de Sofia estaria garantido, custeado por ele.

Engoli em seco.

— Está bem, concordo… mas quero acrescentar algumas condições.

— Fale. — respondeu, sentando ao meu lado. — Gosto de mulheres que sabem se posicionar.

Ignorei o comentário.

— Primeiro: esse casamento será apenas público. Nenhuma invasão na minha vida pessoal.

Ele esboçou um sorriso discreto, que não chegou aos olhos.

— Pode ficar tranquila. Sou um homem de negócios, não um predador. A imagem é o que importa. O resto é secundário.

Assenti, firme.

— E segundo… quero o direito de sair disso a qualquer momento, se não me sentir respeitada. Sem chantagens. Sem manipulação.

Dessa vez, ele demorou a responder. Me encarou por longos segundos, até dizer:

— Não é um favor. É uma troca. Você está me dando algo que ninguém mais pode: estabilidade social diante de investidores conservadores. Sua imagem agora vale ouro. Eu vou respeitá-la, desde que não tente fugir com esse ouro antes do prazo. É um acordo de um ano. Quando o prazo acabar, estará livre.

Um arrepio percorreu minha espinha.

— Então está bem. Mas se alguém quebrar uma regra, pagará uma multa em dinheiro. Concorda?

Ele sorriu, satisfeito.

— Certo. Acho justo.

— Agora precisamos ir ao cartório. — completou ele.

Arregalei os olhos.

— Não pode ser amanhã? Quero estar aqui quando Sofia acordar.

— Não se preocupe. Vai ser rápido. Só assinar e sair. Preciso estar casado ainda hoje.

Suspirei. Se eu não tivesse ligado, com quem ele estaria casando agora?

— Vamos. — murmurei, sem escolha.

E assim fomos ao cartório. O ambiente era frio, impessoal. Assinei o documento com a mão trêmula, tentando não pensar no peso daquelas linhas que selavam meu destino. Leonardo assinou logo em seguida, com uma firmeza quase cruel.

Quando o funcionário confirmou a união, compreendi: a vida que eu conhecia havia acabado.

Eu havia me casado.

Sem meu pai.

Sem minha família.

Sem amor.

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Leonardo

Desde o cemitério, eu já sabia que Aurora cederia. Não naquele momento — ela era orgulhosa demais para aceitar logo após enterrar o pai. Mas eu sabia esperar.

Segui minha rotina com a imprensa, reuniões, compromissos que sequer registrei. Então veio a ligação dela, horas depois. A voz embargada, desesperada. “Eu aceito, só salve ela.” Exatamente o que eu previa.

Naquele instante, percebi que o destino havia se dobrado à minha vontade. Mas algo estranho também surgiu: não apenas a sensação de vitória, e sim uma centelha perigosa, algo que eu não queria nomear.

Eu sabia o que significava perder família. Conhecia bem a dor dela. Ainda assim, quando o médico deu a notícia e a vi caminhar para o jardim, soube que era a hora de encerrar aquilo de vez.

Levei-a até o cartório sem permitir hesitação. Cada passo dela era pesado, mas eu não vacilei. Se desse espaço, poderia perdê-la de novo.

Agora, olhando para sua assinatura ao lado da minha, compreendi: o que começou como cálculo frio se tornava algo que nem eu sabia definir.

O acordo estava selado. Aurora era minha esposa.

Não por amor, mas por necessidade.

Ainda assim… era minha.

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