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Capítulo 10: O peso do nome

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Pov de Aurora

Saímos do cartório em silêncio. O papel frio da certidão queimava entre meus dedos como se fosse uma algema invisível. Cada passo fora dali me afastava da vida que eu conhecia e me empurrava para um destino que eu jamais escolheria.

Leonardo caminhava ao meu lado com a serenidade de quem concluíra um bom negócio. Seu rosto não mostrava arrependimento nem satisfação, apenas aquela firmeza calculada que me fazia estremecer. Para ele, era apenas uma transação. Para mim, uma sentença.

Ele abriu a porta do carro para mim. Por um instante, pensei em correr… mas não havia para onde ir. O contrato não era apenas meu — era também a garantia de que Sofia teria uma chance de viver.

Entrei. O cheiro de couro misturado ao perfume sofisticado de Leonardo me cercaram, sufocantes. Ele entrou logo depois, e o silêncio entre nós se tornou quase insuportável.

Olhei pela janela. A cidade seguia viva: pessoas correndo, risadas soltas nas calçadas, a rotina comum que já não me pertencia. Eu estava ali, dentro de um carro luxuoso, ao lado de um homem que agora carregava o título de marido.

— Preciso voltar ao hospital. — quebrei o silêncio, a voz baixa, quase suplicante.

Ele virou o rosto na minha direção. Os olhos verdes e frios me prenderam.

— Vai voltar. Mas antes precisamos resolver algumas coisas. Agora você é a senhora Vasconcellos.

Meu estômago revirou ao ouvir aquele nome colado ao meu. Senhora Vasconcellos. Um título que não queria, mas que agora me marcava para sempre.

— Eu não pedi isso… — murmurei, tentando não desmoronar.

— Não. — ele respondeu com calma. — Mas aceitou.

Fechei os olhos, sentindo a respiração pesar. Eu precisava ser forte. Não por mim, mas por Sofia. Sempre por ela.

O carro avançou até estacionar novamente em frente ao hospital. Meu coração acelerou. Corri para dentro sem esperar por ele. Subi os corredores brancos, o cheiro de álcool e medicamento me atingindo forte, até chegar ao quarto de Sofia.

Ela dormia. O rosto pálido, o corpo frágil entre fios e aparelhos. Mas seu peito subia e descia devagar, ritmado. Isso bastava.

Segurei sua mão gelada e deixei que as lágrimas finalmente caíssem.

— Eu consegui, Sofy… — sussurrei. — Está tudo pago. Você vai ficar bem, eu prometo.

Uma presença atrás de mim fez meu coração disparar. Pelo reflexo do vidro, vi Leonardo parado à porta, observando em silêncio. Havia algo diferente em seus olhos. Não era frieza, mas também não era compaixão. Talvez fosse apenas curiosidade.

Ele não entrou. Apenas ficou ali, como uma sombra.

Apertei mais a mão da minha irmã. Eu estava presa, sim. Mas se o preço da minha liberdade era a vida dela, então eu suportaria.

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— Precisamos conversar. — a voz dele soou firme, e eu assenti.

Fomos para o corredor do hospital.

— Estou aqui. — respondi simplesmente.

Leonardo inclinou-se um pouco para mais perto, o olhar frio, mas carregado de uma gravidade que me fez prender a respiração.

— Aurora, amanhã quero que esteja pronta. Vou passar aqui para buscá-la. — disse em tom sério. — Há um baile de gala organizado pelo setor financeiro. Todos os grandes nomes da área estarão presentes, e você vai comigo.

Ele fez uma pausa curta, como se medisse cada palavra.

— Não é apenas uma reunião de negócios. É uma noite importante. Preciso que esteja ao meu lado.

Eu pisquei algumas vezes, surpresa. Um baile de gala… Meu coração acelerou antes que eu conseguisse responder.

— U-um baile? — repeti, quase num sussurro.

Leonardo assentiu.

— Não se preocupe com o que vestir. Vou mandar o necessário.

Falar do vestido como se fosse a única questão me deu vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Não era que não importasse… mas um baile? Eu nunca tinha ido a um baile! Meu Deus, no que eu tinha me metido?

— Você está me ouvindo? — ele me chacoalhou de leve, como se eu fosse uma boneca.

— Estou ouvindo! — reclamei, puxando o braço. — Não precisava me sacudir desse jeito. Eu só… me distraí. Quando fico sobrecarregada é normal. — suspirei fundo. — Mas entendi, senhor Vasconcellos. Amanhã, quando voltar, vai me encontrar aqui. Afinal… não tenho para onde ir.

A última parte saiu quase como um sussurro para mim mesma. Eu só esperava que ele não tivesse ouvido. Não queria que pensasse que eu era… sem teto. Mas, no fundo, era exatamente isso.

— Ótimo. — foi tudo o que ele disse.

Ótimo? Essa era a única coisa que ele tinha para dizer? Custava desejar que Sofia melhorasse ou simplesmente dar boa noite? Idiota. Eu odiava esse homem a cada minuto que passava.

Olhei para as costas dele enquanto se afastava e, sem resistir, fiz uma careta e mostrei a língua.

— O que você está fazendo, sua maluca?

— Aaah! — dei um salto, virando-me de repente. Minha mão foi direto ao peito. — Mar, você quase me matou de susto!

Minha amiga Margo arqueou a sobrancelha, divertida.

— Eu te assustei? Jura? Porque daqui parecia que você estava fazendo careta pro seu suposto namorado.

Ela apontou na direção por onde Léo havia acabado de sair.

Espera! Léo. Céus. Até apelido eu já tinha dado pra ele. Eu não podia estar falando sério.

Abanei a cabeça, nervosa.

— Não é suposto namorado, é…

As palavras emperraram. Marido? Contrato? Eu nem sabia como definir.

Margo cruzou os braços.

— É o quê, Aura? Você me prometeu que ia me contar tudo. Lembra?

— Eu lembro. — suspirei. — E vou contar. Mas aqui não é o lugar. Vamos pro jardim.

Ela me olhou fundo, séria.

— Tá. Mas eu quero a verdade inteira, Aura. Tá me ouvindo?

Engoli em seco, e assenti.

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O jardim sempre teve um efeito estranho sobre mim. Talvez fosse o contraste entre o silêncio das flores e o barulho da minha cabeça. As rosas se erguiam como se quisessem competir entre si, os lírios balançavam devagar com o vento, e eu... eu estava ali tentando lembrar como se respirava sem sentir o peito apertado.

— Você está estranhamente calada — Margo comentou, quebrando o silêncio. O olhar dela pousou em mim com aquele jeito afiado, como se conseguisse ler os pensamentos que eu tanto tentava esconder.

Forço um sorriso, mas sei que não convenço ninguém.

— Só estou cansada... — minto, mas minha voz não tem firmeza, e também não é pura mentira estou mesmo aconteceu um monte de coisas em menos de 48 horas na minha vida .

Meu pai morreu.

Perdi a casa dele .

Sofia piorou.

E por fim me casei com o homem mais frio de Brazil, ah muitas felicidades para mim.

Ela se aproxima, se senta ao meu lado no banco de pedra. Não precisa dizer nada. O simples fato de estar ali já pesa sobre mim, como um lembrete de que não dá mais para adiar o inevitável.

Meus dedos brincam com uma folha caída, rasgando-a em pedaços minúsculos. Acho que, no fundo, queria que a minha vida fosse assim: algo que eu pudesse simplesmente desfazer e recomeçar do zero.

— Aurora... — a voz de Margo é baixa, paciente. — Você sabe que pode me contar, não sabe?

Respiro fundo. O vento traz o perfume do jasmim, mas, em vez de me acalmar, me sufoca. Porque a verdade está prestes a sair, e ela não tem nada de perfumada.

— Não é tão simples... — começo, hesitando. — Você sabe como as coisas parecem... perfeitas, mas, na verdade, são só... um teatro?

Margo arqueia as sobrancelhas. — Está falando de você e de Leonardo?

Meu coração dispara. Não queria ouvir o nome dele agora, não assim.

— Sim... — minha voz mal sai. — O que temos... não é exatamente o que parece.

Ela espera, paciente. Sempre foi melhor do que eu em lidar com silêncios.

Engulo em seco, tentando achar as palavras.

— É como se... como se eu estivesse presa a algo que nunca escolhi de verdade. — Pauso, e meus olhos se perdem no horizonte. — Um... contrato.

A palavra escapa antes que eu consiga segurá-la.

Margo arregala os olhos, surpresa.

— Como assim, Aurora?

Eu sorrio, um sorriso frágil, quase quebrado. — Digamos que o “conto de fadas” tem mais cláusulas e assinaturas do que beijos e promessas.

O silêncio que se instala entre nós é pesado, mas, de certa forma, libertador. Porque, pela primeira vez, eu não estava carregando tudo sozinha.

— aura um contrato?

— sim!

— De que?

— De ...

— Aura? — Insisti.

— casamento.— grito.— É de casamento.

— Casamento… — Margo repetiu, a voz embargada, como se ainda não acreditasse no que ouvira. — Você tá me dizendo que assinou um contrato de casamento, Aurora?

Engoli em seco, minhas mãos tremendo ao rasgar outra folha caída no colo.

— Eu não tive escolha, Mar. Era isso… ou perder a Sofia.

— Isso é loucura! — ela quase gritou, os olhos marejados. — Esse homem te comprou, Aura! Você tem noção do que tá falando?

Fecho os olhos por um instante, sentindo o peso daquelas palavras. Sim, tinha. Cada vez que Leonardo me olhava com aquela calma cortante, eu lembrava.

— Eu sei que parece horrível… — minha voz saiu baixa, quase implorando por compreensão. — Mas é a única forma dela continuar no tratamento. Eu faria qualquer coisa pela Sofia. Qualquer coisa.

Margo segurou meu braço, apertando forte, como se tentasse me ancorar na realidade.

— E quem vai cuidar de você, hein? Quem vai te salvar desse inferno que você aceitou?

O peito doeu. Porque eu não tinha resposta.

O silêncio caiu pesado, apenas o vento fazendo as flores do jardim balançarem, como se o mundo não ligasse para o nó que me sufocava.

De repente, senti um arrepio. Aquele tipo de arrepio que não vem do frio, mas de uma presença. Levantei os olhos — e lá estava ele.

Leonardo.

Encostado no batente da porta que dava para o jardim, mãos nos bolsos, observando em silêncio. A luz fraca do hospital recortava sua silhueta, e seu olhar verde me atingiu como uma lâmina.

Meu coração disparou. Será que ele tinha ouvido?

Margo soltou meu braço devagar, erguendo o queixo em desafio, como se estivesse pronta para enfrentar o próprio diabo. Eu, por outro lado, só conseguia pensar em como aquele momento podia virar meu pesadelo.

Leonardo deu um passo à frente. Não disse nada. Não precisava. O peso do nome que agora eu carregava falava por ele.

E pela primeira vez desde que tudo começou, percebi o verdadeiro peso do meu novo nome: Aurora Vasconcellos.

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