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Capítulo 11: O jardim dos avisos e decisões

O jardim parecia respirar junto comigo, como se cada flor balançando ao vento soubesse do peso que eu carregava no peito.

Margo levantou-se e começou a caminhar até Leonardo.

Seus passos eram firmes, o olhar faiscava indignação, e eu soube, no mesmo instante, que nada de bom sairia daquele encontro.

Por que eu sabia disso? Porque eu conheço a minha amiga, e sei que às vezes ela não tem papo na língua.

— Então é verdade… — ela cruzou os braços, encarando Leonardo com desdém. — Você realmente fez a minha amiga assinar um contrato ridículo, como se fosse uma mercadoria?

Senti meu coração apertar. Eu queria responder, explicar, qualquer coisa… mas minha boca se fechou antes mesmo de tentar. Margo já avançava como um furacão, e eu, presa no meio, só podia assistir.

— Leonardo Vasconcellos — a voz dela cortou o ar —, não sei que tipo de joguinho você acha que está fazendo, mas não vou ficar de braços cruzados vendo a Aurora se meter nisso. Você pode até achar que é poderoso, mas o que está prestes a acontecer… pode destruir vocês dois.

Virei o rosto para ele, esperando alguma reação. Leonardo, no entanto, manteve a postura impecável, como se nada pudesse abalar aquele gelo que carregava no olhar.

— Avisos não me intimidam, senhorita. — Sua voz soou baixa, firme, quase cruel. — Eu não tomo decisões baseadas em sentimentalismos de terceiros. O que acontece entre mim e Aurora… é apenas entre mim e ela.

Ele olhou direto nos meus olhos.

Meu estômago se revirou. Eu não era uma coisa para ser discutida como um objeto, mas era assim que ele falava.

Margo fechou os punhos, o rosto vermelho de raiva.

— Você fala como se ela fosse sua propriedade.

Foi aí que vi o meio sorriso dele. Um sorriso gélido, calculado, que me fez gelar.

— Talvez você não entenda agora… mas em breve compreenderá que certas escolhas não podem ser desfeitas. Ela decidiu isso, eu só fiz uma proposta e ela aceitou. Que culpa tenho eu?

As palavras caíram sobre mim como um peso invisível. Minhas mãos começaram a tremer. Ele tinha razão… fui eu quem o chamou.

— Aurora, abre os olhos! — Margo se virou para mim, a voz carregada de desespero. — Você não tem ideia do que esse contrato significa!

Eu senti as lágrimas ameaçando, mas antes que pudesse dizer algo, Leonardo deu um passo à frente, colocando-se entre nós. Seu olhar verde me cortava, mas era em Margo que a frieza dele se concentrava.

— Já chega. — O tom era duro, um aviso. — Se pretende se intrometer, vai descobrir que eu não sou tão paciente quanto pareço.

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Eu sentia minhas pernas fracas, como se o chão pudesse ceder a qualquer momento. Ali, no meio deles, entre a lealdade da minha melhor amiga e a força esmagadora daquele homem, percebi que não era apenas um contrato.

Era uma prisão.

E o pior de tudo: eu mesma tinha fechado a porta.

— Você está me ameaçando? — Margo perguntou, encarando Leonardo nos olhos. — Eu não tenho medo das suas ameaças. Eu já passei por coisas que você nem imagina.

Eu sabia… ela já tinha passado por muito. E eu não queria que passasse por mais coisas por minha causa.

— MARGO! — gritei, e ela olhou para mim. — Por favor, chega. Já está feito, está bem? E eu não vou desfazê-lo também.

Ela me olhou, e agora lágrimas escorriam dos seus olhos. Margo percebeu o que eu quis dizer. Ela sabia que eu não voltaria atrás.

— Eu sinto muito… eu queria poder fazer mais.

— Não te preocupes, a culpa não é tua. São só eu e as minhas desgraças. — Ela veio até mim e me deu um abraço apertado.

— Tá, mas… — virou-se para Leonardo, que nos observava com um ar desinteressado. Idiota! — Você pode me ameaçar quantas vezes quiser, mas eu vou voltar e matar você com as minhas próprias mãos se a minha amiga sofrer nesse período de um ano. Não me importo se você é a pessoa mais rica do Brasil ou não, eu vou matar você.

Pois é, eu avisei: às vezes ela não tem papo na língua. Mas eu acredito nela. Sei do que a minha amiga é capaz para proteger quem ama. E sei também que ela sabe que eu faria o mesmo por ela.

Olhei para Leonardo e vi um pequeno sorriso no canto dos seus lábios. O sorriso dele se alargou de forma quase imperceptível, como se as palavras de Margo fossem apenas um divertimento para o seu ego.

— Corajosa — murmurou, com aquele tom grave que fazia o ar ao redor pesar. — Mas coragem sem poder não passa de insolência.

Margo não recuou. Seus olhos faiscavam como brasas prestes a incendiar tudo.

— Você não faz ideia do que eu sou capaz.

Por um instante, tive a sensação de que o jardim inteiro prendia a respiração. A tensão era tão densa que até o vento pareceu parar. Eu estava no meio, esmagada entre dois mundos — a fúria protetora de Margo e a frieza impenetrável de Leonardo.

— Já basta. — Minha voz saiu embargada, mas firme o suficiente para que ambos me olhassem. — Margo… eu...

Eu não disse nada, mas ela já entendeu o que eu quis dizer.

— Tá, eu já me calei — disse, jogando as mãos para o alto. — Mas eu não menti. Se ele magoar você nesse período de tempo, eu vou matar ele.

— Tenho certeza de que isso não será necessário. Eu vou devolver ela inteira.

Ele olhou para mim com aqueles olhos verdes e penetrantes.

E isso não me incomodou… quer dizer, um pouco. Quem não ficaria incomodada com um olhar desses?

Mas o que mais me incomodava era o jeito que os dois falavam de mim, como se eu fosse uma boneca que pode ser dada e depois devolvida. Idiotas, os dois.

Desviei meus olhos dele e perguntei:

— Eu achei que você já tivesse ido embora.

— Eu disse a você que estava indo embora? — ele arqueou a sobrancelha, aproximando-se devagar. — Estava falando com o médico responsável pelo caso da sua irmã. Ele quer falar contigo.

Pisquei atônita.

— O que aconteceu com a Sofia? — perguntei, já começando a caminhar para fora do jardim.

Mas ele segurou o meu braço.

— Não aconteceu nada. Ele só quer dar algumas informações, não há necessidade de ficar preocupada.

— Tá. Obrigada por me avisar. Eu vou ter com ele já. — falei, olhando nos olhos dele.

E ele fez o mesmo. No mesmo instante, senti um calor no meu braço, exatamente onde ele me segurava.

Ele ainda não soltava, e aquele calor estranho não fazia sentido. Era apenas um toque, nada demais, mas minha pele parecia queimar debaixo da mão dele.

— Pode soltar — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.

Por um instante, achei que ele fosse ignorar. Os olhos dele desceram para o ponto onde me segurava, depois voltaram para os meus. E vi algo ali… algo que não combinava com aquele homem frio e calculista.

Era rápido, fugaz, mas estava lá.

— Não precisa me agradecer, Aurora. — A voz dele saiu mais baixa do que antes, quase rouca. — Apenas… não demore.

Ele soltou meu braço, e o calor desapareceu tão rápido quanto tinha surgido, deixando apenas o vazio e a lembrança da pressão dos dedos dele na minha pele.

Meu coração batia acelerado. Eu não queria admitir, mas não era só pelo medo.

Margo, ainda ao meu lado, bufou alto.

— Ele acha que pode mandar em todo mundo… — resmungou, segurando minha mão com força. — Mas não vou deixar ele brincar com você. E por que ela não deve demorar? Se for para falar alguma coisa com ela, pode falar bem na minha frente.

Ele suspirou e disse:

— Como minha esposa, você terá que morar comigo.

Ele disse isso simplesmente. Eu já sabia… afinal, estava no contrato.

— É, eu sei. Estava no contrato.

— Tá, então até amanhã.

E foi embora. Pelo menos, desta vez, ele se despediu.

— Eu não gostei nada desse contrato, Aura. — Margo disse ao meu lado, enquanto observávamos Leonardo ir embora.

— É só durante um ano, e não vai durar muito. Além disso, eu não vou estar sozinha durante esse tempo. Você vai estar aqui, e a Sofia também. — Mas depois que falei isso, o semblante de Margo mudou completamente.

— Eu… eu não vou poder estar aqui, Aura.

— Como assim você não vai estar aqui? — perguntei, tentando olhar nos olhos dela. Difícil, já que ela mantinha a cabeça baixa.

— É que… eu fui aceita. — disse, finalmente levantando a cabeça e me olhando nos olhos.

— Você foi aceita?! Meu Deus, Margo, meus parabéns! — Saltei nela e a apertei forte. Eu estava muito feliz por ela. Ela lutou muito para estar aqui.

Espera… eu não contei do que a gente está falando, não é?

Margo tinha entrado na academia de polícia. Agora foi aceita e vai ser detetive. Esse sempre foi o sonho dela.

— Eu estou muito feliz por você, muito mesmo! — disse, sem largar nosso abraço, e dei um beijo bem na ponta do seu nariz.

— Obrigada. — respondeu, com um sorriso contido no rosto. Estava feliz, mas não parecia totalmente.

— Mas… como assim você não vai estar aqui? — perguntei, confusa. Se ela foi aceita, por que não ficaria?

— Eu não vou estar no Vale das Acácias, infelizmente.

— Por quê?

— Você sabe que eu quero me tornar detetive, certo? E, para isso, preciso ficar seis meses em Porto Negro. — Ela desviava o olhar o tempo todo, ora para mim, ora para as flores.

— Isso é sério, Margo?

— Sim. Eu lamento muito. Não queria que fosse assim. Achei que só seria daqui alguns meses. Eu lamento mesmo. — Ela falava rápido, sem parar quieta.

— Margo… — chamei.

— O seu pai foi enterrado hoje, e a Sofia está mal…

Ela continuava falando, até que lágrimas começaram a cair pelo rosto.

— Margo? — chamei de novo.

— Eu não vou…

— MARGO! — gritei, interrompendo. — Você vai.

Segurei o rosto dela.

— Você sonhou com isso a vida toda. Não importa, tá? Você vai. Faz isso por mim e pela Sofia também. Você acha que ela ficaria feliz em te ver infeliz por ter ficado? — Ela balançou a cabeça de um lado para o outro. Ficava tão fofa assim, parecia um gatinho bebê… só que eu sei melhor do que ninguém que ela tem garras. — Então não se diz mais nada. Você vai, pronto. Eu amo você, e a Sofia também.

Talvez aquele idiota do Leonardo tivesse razão: eu não podia deixar que a morte do meu pai prejudicasse algo pelo qual ela se esforçou tanto.

— Muito obrigada… eu amo muito vocês também. — disse ela, me abraçando. — Ah, pois é… também me deram uma oportunidade. Na verdade, duas. Eu poderei escolher dois casos inacabados ou não resolvidos para continuar. Vou ter os recursos deles, tanto financeiros quanto materiais, para conseguir resolver. Se eu conseguir mesmo, tenho prazo de um ano: os seis meses lá e os seis meses quando eu voltar pra cá. Porque eu vou voltar, eu prometo.

Ela desabafou tão rápido que eu quase não consegui acompanhar.

— Tá, eu nem vou perguntar qual vai ser o primeiro caso, porque eu já sei. Boa sorte, minha amiga. — sorri sinceramente para ela.

— Obrigada. Eu vou amanhã.

— Sério? Tão rápido?

— Sim. E não te preocupes, vou deixar minha chave contigo. Não se esqueça: eu amo você.

Ela colocou a mão na cabeça .

Margo me puxou apressada pelo braço.

— Ai, meu Deus, deixamos o médico esperando!

O coração acelerou de novo. O contrato, Leonardo, a despedida de Margo… tudo parecia uma tempestade sem fim. E, no meio dela, a saúde da minha irmã.

Apertei a mão da minha amiga e respirei fundo.

O próximo passo me esperava.

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