LARA
O barulho abafado da rua some assim que atravessamos o saguão do hotel. Tapetes grossos, mármore no chão, funcionários com sorrisos treinados e um aroma leve de baunilha no ar. É o tipo de lugar em que se fala mais baixo. Em que tudo é calculado para parecer eterno.
Dorian está ao meu lado, em silêncio. O terno impecável, embora a gravata esteja solta, e os olhos… os olhos ainda carregam o peso do que vivemos hoje.
Estamos casados.
Ainda é estranho pensar nisso. Não por causa do contrato, ou da cerimônia que nasceu de um pedido da minha mãe, mas porque, de algum jeito, atravessamos algo que parecia impossível. E agora estamos aqui. Só nós dois.
O elevador sobe devagar. A música ambiente é suave, mas meu coração não acompanha o ritmo.
— Está tudo bem? — ele pergunta.
— Só cansada — respondo. É verdade. Mas não é só isso.
Ele assente, e o silêncio se instala de novo. Não o silêncio desconfortável de antes. É outro. Quase acolhedor. Mas estranho o suficiente para me deixar atenta.
Q