Me afasto do salão com passos leves, os ecos da música e dos risos ficando para trás como um sussurro abafado. Retocar o batom é uma desculpa conveniente para respirar longe dos olhares que nos cercam como predadores entorpecidos por luxo.
A sala de apoio ao lado do banheiro é silenciosa, espelhada e fria. Um oásis efêmero dentro do espetáculo ensaiado que se desenrola lá fora. Corrijo o batom com a ponta dos dedos e ajeito os fios soltos de cabelo, observando o reflexo com atenção. Não busco beleza — busco controle. E está tudo no lugar.
Saio e viro à esquerda no corredor, os saltos produzindo um som ritmado no mármore. Estou a dois passos da entrada principal do salão quando o vejo.
Encostado casualmente em uma das colunas, uma taça na mão e o sorriso de quem já sabe que foi notado.
Brent Sutherland.
Ele se afasta da coluna com a calma de quem ensaiou aquele movimento mil vezes no espelho.
— Sra. Vega — diz, com a voz suave demais para alguém tão perigoso.
Paro. Apenas o suficiente