LARA
O sol da tarde invade a varanda. Levo duas xícaras de chá para o andar de cima, onde minha mãe passa a tarde lendo na poltrona.
Hoje, no entanto, há mais cor em suas bochechas. Ela usa um lenço azul-claro nos cabelos e segura o livro com mais firmeza. Não é a mesma mulher que voltou do hospital quebrada por dentro. Mas também não é a mulher de antes. Ainda há rachaduras, mesmo que o brilho nos olhos tente escondê-las.
— Trouxe chá — digo, com a voz leve.
— Maçã com canela? — Ela sorri sem levantar os olhos.
— Como você gosta.
Ela aceita a xícara, apoia o livro no colo e me observa por alguns segundos, antes de falar.
— Você está diferente.
— Diferente como?
— Mais calma. Mais mulher. Com os olhos menos aflitos.
Sento na poltrona ao lado e respiro fundo.
— Talvez seja culpa das montanhas.
Ela sorri de canto.
— Ou de Dorian.
— Também. — Dou de ombros, sincera. — A viagem nos fez bem.
Silêncio. Tomamos o chá em pequenos goles, como se o tempo nos permitisse uma trégua. E, por um br