LARA
A biblioteca é o único cômodo da casa onde o tempo parece andar mais devagar. Talvez por causa das estantes altas, da luz baixa, das poltronas confortáveis em que já passei momentos agradáveis lendo. É o tipo de espaço onde os segredos se escondem em silêncio. E hoje, um deles vai deixar de se esconder.
Fecho a porta atrás de mim. Cruzo os braços. Meu pai já está sentado, como se fosse o dono do lugar.
— Pode falar — digo.
Ele me olha com a calma de quem calculou tudo. Como se aquele pedido por uma conversa a sós já tivesse um roteiro pronto.
— Eu tentei — começa. — Juro que tentei me aproximar com calma. Resgatar alguma coisa boa entre nós.
— Não há nada bom entre nós — respondo, seca.
— Tem razão. — Ele ergue as mãos em rendição. — E por isso estou aqui. Não quero perder meu tempo nem fazer você perder o seu.
Silêncio.
Ele se inclina para frente, apoia os cotovelos nos joelhos. O blazer se abre e vejo o relógio de pulso caro. Dado por quem? Comprado com o dinheiro de quem?
— A