LARA
O som da campainha não me assusta.
Não depois de tantas vezes em que o som mais inocente se tornou prenúncio do caos. Eu me preparo antes mesmo de cruzar o corredor. Visto a armadura de uma mulher que já não é a mesma menina que ele deixou para trás — e finjo que ela é à prova de pai.
Dorian está ao meu lado. Tenso, mas contido. Ele me perguntou três vezes se eu tinha certeza sobre isso. Disse que poderia impedir, que eu não precisava passar por isso.
Mas eu quis.
Não por esperança.
Por certeza.
Certeza de que preciso vê-lo de perto para entender o jogo. E não ser mais uma peça dele.
Abro a porta com mãos firmes. Não tremo. Ele sorri.
— Filha...
A palavra me atravessa, mas não me derruba.
Ele está mais arrumado do que me lembrava. Cabelo penteado, blazer escuro, sapato limpo demais. Como se vestisse arrependimento. Como se quisesse parecer confiável.
Como se uma aparência fosse suficiente para apagar tudo.
— Posso entrar? — pergunta, olhando rapidamente para Dorian, que não escon