DORIAN
Nunca gostei do silêncio.
Quando criança, ele era o intervalo entre os gritos das pessoas que me criaram quando meus pais morreram. Quando adolescente, era o eco das promessas que ninguém cumpria. E depois que Lara me deixou, ele se tornou um lembrete cruel do que eu não podia controlar. Do que eu perdi.
Mas aqui, no meio da neve, com ela dormindo no andar de cima, enroscada num lençol que ainda guarda marcas nossas, o silêncio é outra coisa.
É paz.
É rendição.
É o som exato do que a felicidade pode ser.
A cozinha do chalé é pequena, mas funcional. Gosto da sensação de preparar algo para ela. Acordei antes, não por hábito — mas porque não consegui dormir depois de tê-la nos braços, tão entregue, tão minha, como não era desde... antes. Antes de tudo.
Misturo a massa do bolo com mais calma do que costumo lidar com qualquer coisa. Ela reclamaria da minha técnica. Cat riria da minha tentativa. Mas hoje não estou interessado em perfeição. Estou interessado nela.
O cheiro do café enc