A vida de Asllan está prestes a virar de cabeça para baixo. Tudo por causa de uma aposta inusitada e do desejo ardente de conhecer, sem gastar um centavo, as luxuosas Ilhas Verdes, no sul da Califórnia. Para isso, ele precisa encontrar um namorado em até duas semanas — caso contrário, além de ir ao casamento da melhor amiga sozinho, terá que bancar todos os custos da viagem. O problema? Asllan encontrou o par perfeito... para um romance de mentira. O que ele não esperava era que, nessa farsa cuidadosamente ensaiada, o coração começasse a agir por conta própria.
Leer más— Não acredito que vocês vão mesmo se casar! — exclamei, com um misto de surpresa e empolgação, enquanto encaixávamos os convites dentro dos envelopes. — Estão animados?
Belly soltou um suspiro dramático antes de se virar para mim, com aquele brilho nos olhos que só ela tem.
— Só pode ser brincadeira! Claro que vou! — respondeu com um sorriso nervoso, logo substituído por um ar mais pensativo. — Mas, para ser honesta, também estou um pouco nervosa. É tanta coisa pra resolver... e tão pouco tempo.
Meu olhar seguiu o dela até a mesa coberta de catálogos abertos.
Vestidos de noiva, sapatos, buquês, arranjos de mesa, toalhas, cores, estilos. Um verdadeiro festival de escolhas. Até onde eu sabia, o único detalhe realmente definido era o local da cerimônia.
Soltei uma risadinha, aliviado por não ser eu quem estivesse passando por tudo aquilo.
— Estarei aqui quando você precisar — prometi, mesmo sabendo que ela já contava com isso.
E, claro, ela precisava.
— Você pode começar ajudando na escolha dos vestidos das madrinhas — sugeriu de imediato.
Fiz que não com a cabeça, sem pensar duas vezes.
— Suas amigas dão conta disso sozinhas — respondi, sem maldade. Belly sabia que não era pessoal.
Mas ela não deixou barato:
— Asslan, por favor... pelo menos venha escolher o seu traje. Você é meu melhor amigo e também será o padrinho de honra, lembra?
Revirei os olhos com leveza.
— Você tem minhas medidas. Escolhe um aí e me manda.
Voltei a atenção para os envelopes. Faltavam apenas os selos. Petter, o noivo, tinha saído há pouco para buscá-los.
Belly terminou de montar o último envelope, estalando a língua como quem vence uma maratona. Em seguida, me entregou um convite separado.
— Esse é o seu — disse, estendendo-o.
Abri o envelope mesmo já sabendo o conteúdo — afinal, eu mesmo tinha ajudado a montar os textos.
Fechei-o e fiz graça:
— Nem achei que fosse receber um. Preciso confirmar presença por e-mail ou uma ligação resolve?
Ela riu, entrando na brincadeira.
— É para o seu acompanhante.
Parei de rir na hora.
— Como assim, acompanhante? — questionei, encarando Belly, que agora sorria como se já estivesse planejando algo.
— Vai dizer que não vai levar ninguém? — perguntou ela, levando a mão ao peito em falso choque.
Eu já devia ter previsto essa reação.
— Belly, vamos para as Ilhas Verdes. É o seu casamento, não uma viagem romântica.
— Justamente! A chance perfeita pra você chamar alguém. Convida um crush! Aproveita! — tentou me convencer, mas mantive o pé no chão.
— Estou disponível apenas para ir ao seu casamento — enfatizei, cruzando os braços.
Ela me lançou um olhar afiado.
— Se você levar alguém, eu lhe dou dois meses de férias, e ainda pago a passagem de primeira classe e tudo que necessitar por lá.
Aquilo capturou minha atenção.
— Primeira classe? — perguntei, semicerrando os olhos.
Belly assentiu, confiante:
— Óbvio. Primeira classe para os dois. E tudo que ele consumir também.
Meus olhos se acenderam. Agora estávamos falando a mesma língua.
— Bom... sendo assim, eu topo — declarei, estendendo a mão para selar o trato. — Por sorte, eu tenho um encontro marcado até o fim da semana — disparei.
— Um encontro de verdade, não só uma aventura. Senão vocês pagam a própria conta, incluindo tudo que gastarem — avisou ela, com aquela expressão típica de quem sabe onde está se metendo.
Sorri, despreocupado. Fácil.
Nesse instante, a porta da frente se abriu e Petter entrou com uma caixa nas mãos.
— Por que esse sorriso todo? — perguntou, ao me ver praticamente saltitando.
— Dois meses de férias! — respondi, animado, me levantando de um pulo.
Acho que eles mesmos podiam cuidar dos selos. Peguei minhas coisas, me despedi e saí pela porta da frente.
Petter observou minha saída, confuso.
— Do que ele está falando? — perguntou para sua noiva.
— Eu disse que pagaria a viagem dele se ele conseguisse um acompanhante até a próxima semana — respondeu Belly com um largo sorriso.
Petter ergueu a sobrancelha.
— Achei que você já estivesse o presenteado.
Desci a calçada aos pulos, o sorriso no rosto maior que meu senso de realidade. Entrei no carro com a mente a mil.
Era simples: eu só precisava encontrar um cara — de preferência bonito — que topasse fingir ser meu namorado por uma semana. Em troca, férias nas famosas Ilhas Verdes com tudo pago. Quem, em sã consciência, diria não a isso?
Peguei o celular e abri minha lista de contatos. Nada. Nenhum nome parecia uma boa ideia. A maioria das pessoas que eu conhecia era próxima demais da Belly — e se ela desconfiasse que era tudo armação, o plano iria por água abaixo.
Tentei pensar fora da caixa. Talvez alguém me indicasse alguém... ou quem sabe um desconhecido simpático da rua? Em teoria, parecia viável. Mas, na prática...
Uma semana depois.
Eu estava de pé, no meio da sala de estar, encarando o próprio fracasso. Sem par. Sem férias. Sem glamour.
Como pode ser tão difícil achar alguém disposto a brincar de casal durante um casamento?
Os dias se arrastaram com encontros frustrados, conversas truncadas e convites recusados. Todos pareciam estar comprometidos, emocionalmente indisponíveis ou, na melhor das hipóteses, desinteressados. Até os aplicativos de namoro viraram território hostil. Nenhuma conversa durava mais de dois dias. Nada encaixava.
O voo para as Ilhas Verdes era dali a alguns dias. E eu precisava, urgentemente, arrumar um acompanhante.
Comecei a andar de um lado para o outro, os passos acompanhando minha ansiedade. A vista da janela, que normalmente me acalmava, dessa vez nem existia aos meus olhos. A mente estava ocupada demais com pensamentos do tipo: o que eu faço agora?
Foi quando olhei para a estante. Um livro antigo e esquecido se destacava entre os outros — capa preta, sem título, meio empoeirado. Lembrei que tinha sido presente de um amigo, uma daquelas piadas de aniversário. O tipo de coisa que a gente ri e guarda.
Sem ter nada melhor a fazer, fui até lá, peguei o livro e me joguei no sofá. Era um manual velho, quase místico, cheio de símbolos estranhos e páginas cheias de frases em línguas que eu definitivamente não dominava. Parecia um apanhado de tradições espirituais, com dicas de meditação, frases de impacto, rezas, versos soltos. Tinha até umas receitas naturais de chás e rituais de intenções.
Suspirei. Abri em uma página aleatória. Uma frase me chamou a atenção:
“Para atrair o que se deseja, concentre-se no que se oferece.”Era isso que me faltava? Oferecer uma oferta?
Pisquei algumas vezes, refletindo. Ao lado, Bob, meu gato, subiu no sofá, esticando a pata exatamente sobre aquele trecho. Coincidência ou não, aquilo me deu uma ideia.
Fechei o livro e corri até o armário. Peguei velas aromáticas, um gravador de voz antigo, um espelho de moldura preta e uma camisa social masculina — tudo isso que estava ali apenas acumulando poeira. Posicionei tudo sobre o tapete da sala, como se estivesse montando uma cena de filme. A luz do abajur era baixa, criando um clima levemente dramático.
Sentei no chão, coloquei o gravador na minha frente e apertei "REC".
Asllan respirou fundo, sentindo a consciência pesar. Ele sabia que, por mais que a intenção fosse proteger os sentimentos de Belly, havia um limite: ele não podia continuar com a mentira. Mas revelar a farsa naquele momento, diante de todos, seria explosivo.E então, por um instante, Asllan considerou simplesmente ficar em silêncio, deixando que Belly completasse o pedido de desculpas.O salão parecia suspenso no tempo. Cada convidado, congelado, assistia àquela tensão que pairava entre Asllan e Kevin. O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo sussurro de algumas velas acesas e pelo leve tilintar de talheres nas mesas de apoio.Asllan sentiu o corpo inteiro tremer, e não era só o nervosismo do momento — era a expectativa contida de todos os olhares sobre ele, misturada à confusão que sentia por dentro. Kevin, percebendo a hesitação, não deixou que o silêncio se prolongasse. Aproximou-se com aquela confiança debochada que sempre o caracterizava e, para surpresa de todos — inc
O salão silenciou quando a música mudou, suave, mas suficiente para anunciar que era hora. Cada olhar se voltou para a entrada, onde Belly surgia, radiante, abraçada pelo braço do pai. O vestido branco flutuava em ondas delicadas, a cauda parecia beijar o chão em um ritmo próprio, e o véu, preso com pequenas flores, cintilava à luz das velas. Era impossível não se render à sua presença; mesmo os convidados mais distraídos ficaram imóveis, absorvendo cada detalhe da perfeição cuidadosamente planejada.O padre já esperava ao centro, sereno, com uma expressão que misturava solenidade e leve curiosidade. O corredor que levava ao altar estava impecável, flores brancas e azuis marcando o caminho, iluminadas por pequenas velas que tremeluziam como estrelas contidas em castiçais. Cada passo da noiva parecia prolongar o tempo, e Asllan sentiu o coração acelerar, não só pelo momento, mas pela tensão silenciosa que o acompanhava desde o beijo — agora ainda mais presente em sua mente.Kevin estav
Enquanto os preparativos para o casamento avançavam, os corredores da casa pareciam pulsar com o ritmo apressado das damas de honra e da equipe de organização. Belly, trêmula e com o coração carregado de culpa, vestia sua maquiagem com mãos inseguras. O espelho refletia não apenas sua beleza de noiva, mas também a consciência pesada: acreditava ter atrapalhado um amor verdadeiro que, na verdade, nunca existiu.No quarto um pouco distante, Keven ajeitava a gravata diante do espelho, enquanto Asllan lutava com os botões da camisa. O silêncio entre eles era pesado, carregado de complicações não ditas, mas agora muito claras para ambos.— Você ouviu o que ela anda dizendo? — murmurou Asllan, evitando o olhar de Keven.— Ouvi... — respondeu Keven, ajustando o nó da gravata com força. — Ela quer consertar algo que acha verdadeiro. Não sabe que tudo isso é uma farsa.Asllan suspirou fundo, sentando-se na beira da cama.— Ela acredita que a gente terminou de verdade, que o romance é real. Ago
Belly sentiu o peso da coisa como se tivesse engolido uma série inteira de culpabilidades em dose dupla: vira-lata de amizade, organizadora de caos e agora cupido involuntária com consciência pesada. Ela se trancou por cinco minutos no lavabo do quarto de noiva e repetiu, em voz baixa, o que o coração dela já sabia:— Eu não posso deixar eles se estragarem por minha causa.A decisão era tão clara quanto um roteiro de comédia romântica — e tão prática quanto um plano de casamento: se a vida te dá limões, dá-lhes uma taça de espumante e um microfone. Só que Belly, dessa vez, preferia usar artimanhas mais sutis que discursos públicos. Um grande discurso podia até reparar danos, mas também podia desdobrar humilhações. Ela queria consertar as coisas antes que alguém abrisse a palavra “verdade” no microfone.Saiu do lavabo com a expressão de quem já tinha traçado um mapa. No corredor, passou pelo planner, que conversava com um técnico de som, e lhes deu um sorriso de quem sabe pedir favores
O dia do casamento amanheceu com o brilho dourado do sol refletindo nas águas tranquilas das Ilhas Verdes. O vento soprava leve, trazendo o perfume do mar, enquanto a equipe corria de um lado para o outro, ajustando os últimos detalhes da grande celebração de Belly. As tendas brancas já estavam erguidas, os arranjos florais tomavam forma e os técnicos cuidavam da iluminação que daria vida à noite de festa.Asllan acompanhava de perto, atento aos preparativos, mas ao mesmo tempo perdido nos próprios pensamentos. Kevin mantinha o bom humor, fazendo piadas com os garçons que testavam as taças de cristal, mas, por dentro, algo começava a incomodá-lo. O que um dia começou como um jogo divertido — esse namoro de fachada — agora deixava pequenas marcas invisíveis em seu coração. Ele sabia, e fingia não saber, o quanto Dorian olhava para Asllan.Enquanto Kevin se distraía supervisionando a montagem das mesas, Dorian se aproximou de Asllan. Havia um silêncio confortável entre eles, quebrado ap
Fim de tarde.Os fornecedores iam desmontando a cena do ensaio e armando a do grande dia. Eu tentava sair de fininho quando o celular vibrou. Mensagem de Dorian:5h45. Vale 1. Trago o silêncio. Você traz a verdade que quiser. Sem testemunhas.Não havia ameaça ali. Havia… método. E um humor insolente que me atingia por baixo da guarda.— Convite ou convocação? — Keven leu por cima do meu ombro (talento nato).— Vale número um. — respondi, mostrando.— Vai?— Acho que vou. — falei, surpreendendo a mim mesmo. — Melhor eu conduzir essa conversa do que ser conduzido por ela o dia inteiro.— Ótimo. — Keven assentiu, simples. — Eu cubro você com a Belly no começo da manhã. Digo que você está garantindo a luz perfeita pra foto do nascer do sol. É romântico, rende likes. — Pausa. — E, se ele passar do ponto, você me manda um ponto e vírgula. Eu apareço. Ponto final.— Ponto e vírgula?— Sinal internacional de “vem, mas discretamente”. — Ele fez o gesto no ar. — Funciona melhor
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