— Não acredito que vocês vão se casar! — exclamei, com um riso leve, enquanto deslizava convites de casamento para dentro dos envelopes. A cada lacre, meu coração se divertia mais do que a situação merecia.
— Está realmente animada? — provoquei.
Bella suspirou teatralmente, como quem encena para uma plateia imaginária. Em seguida, girou os ombros e se virou para mim com os olhos brilhando.
— Não acredito que fez essa pergunta. Claro que estou! — respondeu, firme, mas logo seu tom vacilou. — Quer dizer... um pouco nervosa também. Tem tanta coisa para resolver em tão pouco tempo.
Seu olhar pousou sobre a mesa, onde catálogos estavam espalhados como se um furacão de tule e cetim tivesse passado por ali. Vestidos, sapatos, flores, toalhas de mesa e tudo que um casamento digno de revista exigiria. Pelo que eu sabia, a única decisão concreta até agora era o local da cerimônia.
Voltei os olhos para o convite que tinha em mãos e sorri, deixando escapar uma provocação:
— Ainda bem que não sou eu quem vai se casar.
— Você vai estar comigo em cada detalhe, senhor padrinho de honra.
— Pode contar comigo. — disse, sincero. A amizade com Bella vinha de longa data, e eu sabia que estaria presente em mais do que envelopes. Estaria ali nos bastidores, nos bastantes e nas entrelinhas.
— Ótimo. E pode começar ajudando a escolher os vestidos das madrinhas.
Balancei a cabeça, já antecipando o circo:
— Acho que suas amigas dão conta disso. Elas têm mais opiniões do que eu e também paciência.
Ela riu, sabendo que, apesar da minha relutância, eu nunca a deixava na mão.
— Asllan, vamos lá. Você precisa pelo menos escolher algo decente para usar no dia mais importante da minha vida.
A ideia de usar um traje engomado me dava calafrios. Se dependesse de mim, eu apareceria de macacão e chinelo.
— Você tem minhas medidas. Escolhe aí alguma coisa bonita. — respondi, voltando ao trabalho com os envelopes. Faltavam apenas os selos. Petter, o noivo, tinha saído para buscá-los há alguns minutos.
Bella estalou a língua, satisfeita, colocando o último envelope no chão.
— Esse aqui é o seu. — disse, me entregando um convite com um sorriso.
Abri por curiosidade, mesmo tendo sido eu quem imprimiu todos. O detalhe dourado me chamou a atenção.
— Não achei que fosse receber um convite... e ainda com um selo de ouro. Preciso confirmar presença por e-mail? Ou é mais formal e você espera uma carta registrada? — brinquei.
Ela soltou uma gargalhada.
— É para o seu acompanhante.
Travei por um instante.
— Quem disse que eu vou levar alguém? — perguntei, arqueando a sobrancelha.
— Você não vai trazer ninguém? — disse, escandalizada, como se eu tivesse cometido um crime contra o amor.
Revirei os olhos. Eu já devia ter previsto esse tipo de cena.
— Vamos para as Ilhas Verdes, Bella. É o SEU casamento.
— E uma viagem maravilhosa. Você deveria aproveitar. Convide alguém.
— Convide alguém... pra assistir você casar. Uau, romântico.
Ela cruzou os braços e me mirou com aqueles olhos que conheciam todas as minhas fraquezas.
— Se você trouxer alguém, eu pago sua passagem.
Arqueei uma sobrancelha, agora genuinamente interessado.
— Primeira classe?
— Claro. Primeira classe e hotel incluso. É o meu casamento, amigo!
Meus olhos brilharam. Agora, estávamos conversando.
— Fechado. Tenho um encontro marcado até o fim da semana. — disse, estendendo a mão.
— Um encontro de verdade, Asllan. Nada de aventuras passageiras ou vocês pagam a própria conta.
Sorri, daquele jeito que ela já sabia o que significava: eu toparia o desafio.
Foi quando a porta da frente se abriu e Petter entrou com uma caixa de selos nas mãos.
— Por que está com esse sorriso todo? — perguntou, ao me ver praticamente saltando da cadeira.
— Férias grátis! — gritei, pegando minhas coisas.
— Boa sorte com os selos! — me despedi, antes de sair correndo pela porta, como se estivesse fugindo de um casamento ao contrário.
Petter se virou para Bella, confuso.
— Do que ele está falando?
Ela deu de ombros, mas o sorriso não disfarçava o orgulho travesso.
— Disse que pagaria a viagem dele... se arranjasse um acompanhante até a próxima semana.
Petter ergueu uma sobrancelha, meio surpreso.
— Mas achei que já estivéssemos pagando.
— Acredite, está! Mas quero ver até onde Asllan vai.
...
Desci a calçada aos pulos e entrei no carro como se fosse personagem de uma comédia de sábado à tarde.
“Isso é ótimo!”, pensei. “Só preciso encontrar um cara bonito e convencê-lo a fingir que somos um casal por uma semana. Em troca, ele ganha uma viagem com tudo pago para um casamento nas Ilhas Verdes.” Quem, em sã consciência, diria não a isso?
Peguei o celular e percorri meus contatos, um por um. Nada. Nenhum dos meus amigos era uma opção — Bella conhece todos, e com certeza desconfiaria que eu estava forçando a barra.
Talvez alguém me apresente alguém... ou quem sabe um cara aleatório da rua também sirva?!