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Capítulo 5 – Teste de Resistência

Assim que o garçom se afastou, Belly não perdeu tempo.

— Então... como vocês se conheceram?

Ela direcionou a pergunta a Keven, mas eu entrei na frente, forçando-a a me encarar.

— A gente se conheceu no shopping, foi meio casual. Esse já deve ser nosso... terceiro ou quarto encontro — inventei na hora, mantendo a postura. Eu sabia improvisar quando precisava — e sabia que ela estava só esperando a primeira brecha.

Belly apertou os olhos. Ela queria que ele respondesse, não eu.

— E você concorda com isso? — insistiu, virando-se para Keven, como se ele fosse o réu em um tribunal. Sabia que ela estava preparando alguma armadilha.

— Concordar com o quê? — ele rebateu, sem entender onde ela queria chegar. Nem eu, pra ser sincera.

— Com essa coisa de já estar no terceiro encontro... e vir ao nosso casamento?

Ela lançou um olhar rápido para Petter e fez uma pausa dramática, levando a mão à boca como se tivesse falado demais.

— Ah! Ele já sabe? Eu... não devia ter contado, né? — disse, com os olhos arregalados, alternando o olhar entre nós dois como se tivesse cometido um deslize épico.

Ela deveria mesmo ter seguido carreira no teatro.

A fúria subiu por dentro. Eu sabia que ela estava tentando desestabilizar — e se Keven fosse alguém comum, talvez até funcionasse. Mas, felizmente, ele era mais firme do que aparentava.

Ele soltou uma risada curta, discreta, mas sincera. Belly, claro, captou na hora e se virou para ele com o olhar afiado.

— Ele me contou ontem à noite — respondeu ele com tranquilidade, sorrindo de leve. — Parabéns pra vocês, aliás. E claro que eu vou estar lá.

Belly ficou muda por um instante. Aposto que achava que o teatrinho dela ia nos desarmar. Mas não era assim tão fácil.

A comida chegou como um alívio e, por alguns minutos, ela se ocupou distribuindo pratos e talheres, como se precisasse de tempo para se reorganizar mentalmente.

O silêncio entre a gente foi confortável até Petter, finalmente, levantar os olhos e jogar mais uma pergunta no ar.

"E aí, Keven... o que você gosta nele?"

Quase engasguei com um pedaço de waffle. Olhei de lado, curioso pra ver como ele se sairia. Afinal, nada disso tinha sido ensaiado.

Keven olhou pra mim como quem procura uma saída de emergência. Levantei a sobrancelha — agora era ele quem tinha que improvisar.

Ele pigarreou antes de soltar:

— Tudo.

Me virei rapidinho pro prato, enfiando outro pedaço de waffle na boca pra abafar o riso. Não consegui evitar uma risadinha abafada. Ele se deu conta do exagero da resposta e resmungou:

— Aff... que resposta clichê. Que vergonha — murmurou baixinho, já arrependido.

— Tudo? — Petter riu, desconfiado. — Seja mais específico.

Keven me olhou de novo, praticamente pedindo socorro com os olhos. Acho que era a minha deixa.

— Ah, vai... o que não tem pra gostar? — falei casualmente, ainda observando a comida dele. O ovo Benedict parecia mais gostoso do que eu tinha pedido. Estiquei a mão e cutuquei o braço dele, fazendo voz mansa:

— Posso trocar com você?

Ele soltou um sorriso de canto, pegou meu prato e trocou com o dele, sem drama. Era o jeito mais prático de dizer “tudo bem”. Acabei ganhando a troca.

"Obrigada", sorri, sincera.

Belly, que observava tudo como uma juíza de reality show, não perdeu tempo.

— E você? — disse, encarando agora eu. — O que você gosta nele?

Levantei os olhos da comida e percebi que ela não estava só jogando verde. Estava testando mesmo.

— Tudo — respondi, pausando como se pesasse cada sílaba. Eu sabia que não ia colar, mas deixei no ar mesmo assim.

Ela estreitou os olhos. Sabia que precisava melhorar a resposta. Chutei Keven discretamente por baixo da mesa e pigarreei.

— Ele me faz rir. Me sinto à vontade sendo quem eu sou perto dele. Ele é bonito, divertido... E tem um jeito leve de levar as coisas. Acho que isso me atrai —completei, agora com mais naturalidade.

Ok. Eu também sabia atuar.

Belly e Petter se entreolharam, como se estivessem recalculando o julgamento. Pareciam mais convencidos.

— Então... é sério? — perguntou Belly. — Não é só uma aventura?

Assenti, mas percebi que Keven ainda estava meio aéreo. Dei um leve empurrão com o ombro e ele também assentiu, um pouco atrasado, mas sem hesitar. Parecia estar indo com o fluxo.

— Quantos anos você tem? — perguntou Petter, com a curiosidade típica de quem busca inconsistências.

Keven largou o canudo do café e respondeu:

— Tenho dois anos a mais que o Asllan.

Coincidentemente, a mesma idade da dupla casamenteira.

Belly o observou por alguns segundos. Com seu visual despojado — tatuagens, cabelo bagunçado e jaqueta de banda — ele não parecia ter mais que vinte e quatro, mas sua postura era mais madura do que ela esperava.

— Não sabia que você curtia caras mais velhos — comentou, com um sorrisinho maroto.

Segurei a respiração por um segundo.

— Keven é uma exceção — disse, tentando parecer relaxado.

Ela então fez a pergunta que eu temia:

— E o que você faz da vida?

Arregalei os olhos discretamente para Keven. Não havíamos combinado isso.

Não podíamos dizer algo grandioso demais — poderiam checar. Nem algo medíocre — não explicaria o estilo de vida dele.

Então improvisei em pensamento:

“Você assumiu a loja dos seus pais.”

Keven, como se tivesse lido minha mente, repetiu:

— Eu cuido da loja da minha família.

Simples. Seguro.

— Que tipo de loja? — perguntou Petter, sem perder o ritmo.

Keven me olhou, esperando uma deixa. Eu respirei fundo.

— Por que você é tão curioso? — falei, um pouco ríspido demais.

Petter pareceu se ofender. Tentei corrigir:

— Quer dizer... Keven tá aqui como meu namorado. Isso é o que importa. Não precisamos discutir trabalho hoje.

Me aproximei dele e apoiei o braço em seu ombro. A performance estava no ar.

Keven retribuiu o gesto com naturalidade, passando o braço pelas minhas costas e me puxando mais para perto.

O gesto funcionou.

— Bem, então está tudo certo — disse Belly, olhando para Petter. Ela pegou a bolsa e tirou duas passagens. — Nos vemos em alguns dias.

Colocou os bilhetes sobre a mesa. Me inclinei imediatamente, fazendo o braço de Keven escorregar do meu ombro.

As palavras “Primeira Classe” estavam ali, nítidas.

Arregalei os olhos. Olhei para minha amiga, depois para o bilhete, de novo para ela.

Conseguimos.

Virei para Keven com a empolgação de uma criança. Balancei os bilhetes no ar como se fossem bilhetes dourados para a fábrica de chocolate.

Ele apenas ergueu a mão, acenando lentamente, com aquele ar debochado.

— É... viva a gente — disse com um meio sorriso, tentando esconder que estava tão surpreso quanto eu.

As cadeiras arrastaram no chão quando Belly e Petter se levantaram.

— Cuide bem dele, viu? — disse Petter, antes de pegar na mão da sua noiva e sair.

Eu assenti, sorrindo. Por dentro, ainda em choque.

Primeira classe. Eles acreditaram mesmo.

E agora, não tinha mais como voltar atrás.

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