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Capítulo 3 – Boate, Convite e Roupão

A boate estava exatamente como eu lembrava: neon exagerado, cheiro de bebida doce, e aquela música que parece bater diretamente no centro do estômago.

Nada havia mudado.

O mesmo segurança na entrada, a mesma hostess com cara de tédio, as mesmas luzes piscando como se quisessem me hipnotizar. Eu conhecia aquele lugar como conhecia o caminho do meu quarto até a geladeira — e, para ser honesta, preferia a geladeira.

Fiz o possível para não cruzar com ninguém conhecido. Principalmente ele. Aquele que me deixou, sem bilhete ou desculpas, no quarto número 9 pela manhã. Ainda me lembro do som da porta se fechando atrás dele.

“Esquece isso,” pensei.

Foi quando ouvi a voz.

Quando é o casamento?

A pergunta surgiu atrás de mim, como uma brisa gelada na nuca. Meu corpo todo se arrepiou — não de medo, mas daquele tipo de arrepio que vem quando o inesperado se encaixa no inevitável. Eu sabia de quem era a voz antes mesmo de virar.

Quando? — ele repetiu, agora à minha frente.

Peguei o convite da bolsa e entreguei a ele sem dizer nada.

Daqui a cerca de duas semanas, expliquei. Mas precisamos encontrar minha amiga amanhã. Depois disso, embarcamos para Ilhas Verdes e passamos a semana lá.

Ele segurou o convite com uma das mãos e o deixou sobre a mesa, como se aquilo não fosse nada mais do que um panfleto de pizzaria.

Eu só preciso estar lá no dia do casamento?

Sorri, mas não foi um sorriso confiante. Era o tipo de sorriso que vem quando a gente sabe que está pedindo mais do que devia.

Na verdade, preciso que você seja meu namorado... até o casamento acabar.

Ele me olhou com um misto de surpresa e cansaço, como quem já esperava que o acordo não fosse simples.

Tenho que ficar com você esse tempo todo?

Vai depender de quanto minha amiga acredita na gente. — dei de ombros, deixando a ambiguidade no ar.

Ele cantarolou, como quem pondera um preço que ainda não foi dito.

Você consegue pagar pelas diárias que vou perder no trabalho?

Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele ergueu a mão.

Aliás, tenho dois empregos. Entregador... e dançarino.

Fechou os olhos por um segundo, e quando os abriu, parecia decidido a ouvir um sim da minha parte. Meu único contra-ataque foi uma pergunta:

Você tem roupas adequadas para um casamento?

Ele interpretou minha pergunta como uma resposta afirmativa. E, bem, talvez fosse.

As únicas roupas que eu tinha visto nele até agora eram o uniforme azul de entregador e... aquele roupão branco que ele vestia agora, com capuz e tudo. Parecia um personagem saído de um filme épico barato.

Tenho muitas roupas sobrando. — respondeu, casual, como se isso encerrasse o assunto.

Revirei os olhos e fui até o bar. O barman já me conhecia — histórias para outra noite.

Por favor, uma bebida... e quero alugar aquele dançarino para esta noite.

Ele nem piscou. Só assentiu e foi preparar o pedido. Voltei-me para Keven, que ainda me observava com aquele sorriso atrevido.

Não vai me convidar para sentar? — disse ele, com os olhos sorrindo mais do que a boca.

Estreitei os meus.

Você não consegue... simplesmente fazer isso sozinho? — apontei para a cadeira.

Ele ajeitou o roupão e começou a recuar, como se tivesse se ofendido.

Espere! Eu estava brincando.

Levantei-me, engolindo a vontade de gritar. Por dentro, fervia. Sabia que, dali em diante, ele faria de tudo para me deixar louco. Ainda assim, com a voz mais doce que consegui forçar, puxei a cadeira para ele.

Ele fez um gesto com a mão — uma reverência sutil, quase elegante.

Que gentil você é.

Dei um passo para trás e o examinei de cima a baixo. Ele estava bem. Muito bem, aliás. Tirando, claro, o fato de estar usando um roupão de hotel como se fosse traje de gala.

A curiosidade venceu.

Antes de sentar... mostra o que tem debaixo desse roupão?

Aqui? — ele perguntou, olhando ao redor. A boate começava a encher, os corpos se apertavam como ondas prestes a explodir contra as luzes pulsantes, e o som estava a ponto de estourar os tímpanos.

Não é o seu trabalho? — retruquei, arqueando uma sobrancelha.

Com um simples movimento, o roupão branco que cobria seu corpo poderia cair sobre o chão frio e pegajoso da boate. Mas antes que ele fizesse isso, ergui a mão.

Espera. Vamos para um dos quartos no corredor.

Ele me seguiu sem hesitar. Mais obediente do que eu imaginava — ou talvez apenas curioso demais.

Entramos pelo corredor central, passando por portas que guardavam histórias que era melhor não contar. Abri a do quarto secreto e entrei. Pedi que colocasse as bebidas sobre a mesinha central. Não que precisássemos delas de imediato, mas... se o clima esquentasse, eu queria ter uma desculpa prática para quebrar o momento. Um tipo de rota de fuga emocional, caso minha cabeça tentasse pensar melhor depois.

Posso tirar o roupão? — ele perguntou, já com as mãos no cinto de tecido.

Fingi distração. Fiz o desentendido de propósito, observando seus olhos. Havia ali uma vontade intensa de se mostrar, de se expor, talvez até de ser aceito por alguém, nem que fosse só por uma semana.

Belos olhos, comentei, antes de me sentar na beirada da cama.

Ele arqueou um sorriso sutil, desafiador.

Só reparou nos olhos?

Levantei com tranquilidade e caminhei até ele, sem pressa. Meu corpo falava o que minha boca ainda não queria dizer.

Não gosto de observar, prefiro tocar. — sussurrei. — Posso fazer isso com seu corpo... mas não com seus olhos.

Passei os dedos devagar sobre o peitoral dele. A pele era quente, firme. Ele mordeu os lábios, fechando-os logo em seguida. Keven me puxou para perto, colando nossos corpos. O calor entre nós preencheu o quarto inteiro. As luzes frias do teto contrastavam com o calor súbito que embaçava até meu raciocínio.

Sinta então, ele murmurou.

Tentei me afastar. Não porque queria, mas porque precisei. Quanto mais eu tentava sair, mais ele me mantinha ali, preso àquele calor vivo, pulsante. E foi quando vi.

A tatuagem no peito dele.

Debaixo dos uniformes e disfarces, uma imagem que me levou direto ao passado — e com ele, um nome: o pecado das nove.

Foi como intitulei, mentalmente, o último homem para quem me entreguei naquela boate. Era ele. Um ano atrás. O mesmo quarto, as mesmas luzes. A mesma confusão entre corpo e desejo.

Naquele dia, parecemos dois tolos apaixonados. Ambos novatos ali, embriagados o suficiente para não lembrar o que não aconteceu. Acordei na manhã seguinte com a roupa no lugar e o gosto amargo de ter perdido alguma coisa que quase foi.

Agora ele estava ali, diante de mim, sem disfarces — apenas com o roupão entre nossas histórias.

Assenti, desviando o olhar. Tentei controlar o tremor que ameaçava minha voz.

Está tudo bem? — ele perguntou, preocupado.

Claro que não estava. Mas se eu dissesse... talvez ele recusasse o acordo.

Forcei um sorriso.

Tá quente aqui, né?

Ele riu, finalmente me soltando. O ar fresco que voltou a tocar minha pele foi quase um alívio.

Voltei a me sentar e respirei fundo antes de explicar, com mais detalhes, a proposta da viagem, do casamento, do teatro que precisaríamos encenar juntos.

Ele ouviu, calado. Até que, sem rodeios, lançou:

Não vou poder ir com você ao casamento.

A frase caiu como um balde de água fria. Travei.

E por quê?

De início, eu disse que tinha roupas... mas não para esse nível. Pelo que descreveu, tudo parece luxuoso demais. Não tenho nada no meu guarda-roupa que custe mais de cinco mil.

Suspirei, aliviada.

Ah, era só isso? Amanhã te levo ao shopping.

Ele ergueu uma sobrancelha. E, por um instante, até a tatuagem pareceu relaxar com a ideia.

...No dia seguinte...

No shopping, agarrei o braço de Keven com empolgação e o puxei direto para a primeira loja de roupas masculinas que vi pela frente.

Vamos devagar. — ele murmurou, com a voz grave e arrastada.

Parei de repente, olhando ao redor como se estivéssemos sendo vigiados por câmeras escondidas ou pela minha própria ansiedade. Sem pensar muito, empurrei Keven para trás de um cabideiro.

Você precisa se aproximar mais de mim, igual fez ontem! — disse, em pânico, balançando a cabeça como quem tenta reorganizar os próprios pensamentos.

Keven arqueou a sobrancelha, confuso, mas cedeu.

Assim? — Ele entrelaçou seus dedos nos meus, de forma surpreendentemente delicada.

Assenti com a cabeça. Ele estava melhor agora. Mais convincente. Era hora de focar no figurino.

A primeira loja não nos impressionou, então percorremos algumas vitrines vizinhas até que encontrei peças que valiam a pena. Fui juntando uma seleção variada: ternos, camisetas, calças, jaquetas — um verdadeiro desfile de possibilidades. Os sapatos e os ternos sob medida ficariam para a próxima loja.

Com os braços lotados de roupas, Keven me seguiu até o caixa, onde largou as peças no balcão com ares de quem ainda não tinha processado o que estava acontecendo.

Enquanto a atendente começava a ensacar tudo, me inclinei para Keven com um sorrisinho nos lábios e sussurrei:

Você paga, amor.

Ele soltou uma gargalhada alta e se afastou do balcão como se eu tivesse acabado de sugerir um crime.

A atendente não hesitou:

Senhor, por acaso o senhor tem o valor para esta compra?

Revirei os olhos e, calmamente, saquei meu cartão black da carteira. Ela ficou sem graça, pediu desculpas e continuou a registrar as peças.

Keven, observando de longe, sorriu — e voltou ao meu lado, pegando minha mão de novo como se fôssemos um casal apaixonado. Quando guardei o cartão, ele viu o maço de notas na minha carteira e não resistiu:

Nossa, de onde saiu tanto dinheiro?

Depois do pagamento, entreguei parte das notas para ele, que pareceu genuinamente surpreso. Seguimos então para a loja dos ternos.

Quer algo sob medida? — perguntei casualmente.

Ele deu de ombros com naturalidade:

Sob medida.

Entramos em uma loja mais sofisticada, com móveis escuros e iluminação suave. Os atendentes, experientes, nos levaram até uma sala com uma plataforma no centro e espelhos por todos os lados. Disseram que o alfaiate viria em breve.

Enquanto isso, eu me lembrei de que também precisava comprar roupas para mim. Com as sacolas em mãos, me aproximei de Keven.

Vou aproveitar para fazer compras pra mim, tudo bem?

Ele respondeu sem nem me encarar:

Tanto faz. Vá às compras.

Me virei para sair, mas, alguns passos depois, percebi que ele estava me seguindo.

Fique aqui e tire as medidas pro seu terno, ordenei, firme.

Dessa vez ele parou, mas fez uma cara... bom, de cachorro abandonado na chuva.

São só medidas, Keven. Está com medo de ficar sozinho ou algo assim?

Ele se virou, olhos semicerrados, como se eu tivesse tocado num ponto frágil.

Medo? Quem está com medo aqui? — Sua voz ficou mais forte, quase alta demais para a delicadeza do ambiente.

Foi o suficiente para eu perceber: por trás da pose provocadora, havia um traço de insegurança real.

Ele fez um biquinho — e pronto. Me rendi. Decidi ficar. Crise evitada.

O alfaiate chegou e tirou todas as medidas necessárias. Depois de uma pequena eternidade cercados por tecidos, botões e fitas métricas, os ternos estavam prontos. Voltamos ao balcão e encontramos a moça do atendimento finalizando o empacotamento de tudo.

Quanto ficou tudo isso? — perguntei, já imaginando um valor absurdo.

Trinta mil.

Soltei uma risadinha. Ainda bem que eu tinha dinheiro — ou melhor, ainda bem que Bella tinha. De certo modo.

Keven, todo satisfeito com sua nova coleção de roupas de luxo, ergueu uma sacola com um sorriso triunfante.

E agora?

Olhei o relógio. Estava quase na hora.

Agora, corremos. Precisamos encontrar Bella.

Agarrei o braço dele e o puxei porta afora do shopping, como se a comédia toda ainda estivesse só começando.

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