Capítulo 39 Mariana Bazzi Acordei no meio da madrugada, o quarto bem claro, a luz acesa. Meu coração ainda batia acelerado, como se eu tivesse sonhado com algo proibido — ou como se o próprio quarto estivesse impregnado daquele calor sufocante que eu tentei ignorar antes de dormir. Virei o rosto devagar sobre o travesseiro... e o vi. Ezequiel estava deitado de costas, o lençol enrolado apenas na metade das pernas, deixando o resto do corpo totalmente exposto. A toalha? Tinha sumido. Meu peito apertou. Ele dormia com uma expressão tranquila, quase inocente, o que parecia uma contradição absurda com aquele corpo esculpido que agora eu podia ver sem nenhuma barreira. O peito subia e descia devagar, e a linha do abdômen — aquele "V" hipnótico que sumia para onde eu não devia olhar — parecia ainda mais definida sob a luz suave. Senti meu corpo inteiro reagir. A pele formigando, o pijama leve roçando no lugar errado, despertando sensações que eu mal sabia nomear, mas
Capítulo 40 Ezequiel Costa Júnior Ela era o próprio pecado enrolado nos meus braços. E eu estava perdendo o juízo. Cada tremor do corpo da Mariana, cada suspiro rouco que escapava da garganta dela, era como uma corrente elétrica me atravessando. Eu sentia meu autocontrole sendo esmagado a cada segundo, mas sabia que não podia — não devia — ultrapassar o que ela estava disposta a dar. A palma da minha mão deslizava devagar pela pele quente dela, respeitando cada limite invisível. Não toquei seus seios, mesmo com o desejo pulsando ferozmente dentro de mim. Sabia que podia ser perigoso, sabia do que ela já enfrentou. E eu preferia morrer a quebrar a confiança que ela, mesmo tremendo, estava me oferecendo. Me concentrei em acariciar seus cabelos macios, em deslizar meus dedos pela nuca dela, sentindo os pequenos arrepios que eu provocava sem forçar nada. Mantive meu corpo ali, firme, como uma âncora segura onde ela podia se apoiar. E ela se ancorava — oh, se ancorava. D
Capítulo 41 Ezequiel Costa Júnior Ela não me respondeu. Senti uma impotência absurda. Acariciei seus cabelos com delicadeza, puxando uma mecha para trás da orelha, tentando mostrar com cada gesto que ela estava segura aqui comigo. — Isso que falou, não é verdade... — comecei, escolhendo bem as palavras — Isso é coisa que colocaram na sua cabeça. Você não é suja, nem errada. Não sei o que fizeram ou o que disseram, mas não está suja e eu não vou te machucar. Eu prometo. Ela desviou o olhar, mas segurei o rosto dela com as duas mãos, forçando suavemente para que me encarasse. — Você é uma mulher, bonequinha — continuei, a voz firme, mas cheia de ternura. — Linda, jovem. Merece sentir prazer. Merece muito mais do que isso. Merece ser amada, cuidada...Acariciei sua bochecha com o dorso dos dedos. Ela fechou os olhos um segundo, como se absorvesse minhas palavras. — Merece um homem que trate você como mulher de verdade. Que cuide de você... que te proteja. — dei um s
Capítulo 42 Mariana Bazzi Acordei com a voz da doutora Samira me chamando, o tom apavorado. Pisquei devagar, tentando entender onde estava, quando ela se aproximou da cama num impulso, segurando meus ombros com carinho, mas com os olhos marejados de preocupação. — Mariana, você tá bem? Ele te machucou? — a voz dela saiu abafada, com o coração na boca. Respirei fundo. Me sentei devagar, puxando o lençol até os ombros. Abaixei os olhos, sentindo o peso da vergonha e da confusão. Mesmo assim, falei: — Doutora... eu estou bem. — Mas está no quarto dele. Ele te obrigou? — Não, eu fiz um combinado com ele, e... deixei o Ezequiel me tocar. Ela arregalou os olhos. Sentou-se na beirada da cama, tentando controlar a expressão, mas não escondeu o susto. — Como assim? Ele... ele não te forçou? Balancei a cabeça. — Não. Na verdade, eu... eu fiquei excitada ao vê-lo no banho, depois dormindo ao meu lado. Foi estranho. Senti medo..., mas também desejo. Eu mesma comecei
Capítulo 43 Ezequiel Costa Júnior O carro parou em frente a uma casa que minha memória se recusava a reconhecer. Era grande, bem cuidada, cercada por árvores que abafavam os sons da rua. Mauro saiu do lado do passageiro, apontando com um leve gesto de cabeça. — É aqui. Desci devagar, os olhos varrendo cada detalhe, mas nada ali me era familiar. A porta da frente abriu antes que eu batesse, revelando uma mulher de cabelos presos num coque simples, com um sorriso sereno. — Don Ezequiel. Seja bem-vindo. Aquilo me pegou de surpresa. Uma prisioneira feliz? Ou uma atriz muito bem treinada? — Onde está a Sara? — perguntei direto. — Foi cuidar de um assunto seu — ela respondeu com calma. — Umas moças que o senhor pediu pra manter sob custódia. Logo ela volta. Me perguntei porque pedi isso a ela? E que tipo de relacionamento temos? Porque a última coisa que me lembro é de quando esteve na minha cama. Entrei, relutante. O interior da casa era limpo, organizado, como um
Capítulo 44 Ezequiel Costa Júnior Caminhei até o portão com passos firmes, ainda com o sangue pulsando do confronto interno que vinha travando. Um dos seguranças manteve a arma próxima ao corpo, atento ao homem parado do lado de fora. Assim que me viu, o sujeito ajeitou o paletó surrado e se aproximou com respeito, mas sem medo nos olhos. — Estou procurando o agente do Don Ezequiel. — A voz dele era rouca, como quem fumava desde o berço. Fiquei em silêncio por um momento. A cabeça deu um estalo estranho. — Eu sou o Don Ezequiel — respondi, estreitando os olhos. O homem me olhou com estranheza, como quem escutava uma piada fora de hora. Ia abrir a boca de novo, mas uma sombra se projetou ao meu lado. O Consigliere. — Perdoe nosso amigo aqui — disse ele, colocando uma mão paternal no meu ombro, como se isso fosse normal. — Ele sofreu um pequeno acidente. A cabeça ainda está… confusa. Mas já está quase tudo sob controle. No que posso ajudar? O homem pareceu hesitar
Capítulo 45 Ezequiel Costa Júnior Entrei no quarto com Mariana nos braços. Ela era leve demais, frágil demais. Como se o mundo tivesse esmagado cada pedaço dela e agora me restasse tentar juntá-los um a um. Fechei a porta atrás de mim com um estalo e caminhei até a cama. Deitei-a com cuidado sobre os lençóis e me ajoelhei ao lado. Ela tremia. Não me olhava. Só se encolhia, como se tudo ao redor fosse ameaça. — Mariana... — minha voz saiu baixa, quase implorando. — O que aconteceu com você? Nada. Nem um som. — Quem fez isso? Foi alguém daqui? Ela apenas se encolheu mais. O silêncio dela me feria de um jeito que eu não conseguia explicar. O sangue já fervia dentro de mim, mas lutei contra o impulso de levantar e sair quebrando tudo. Eu precisava entender. Precisava ter certeza. — Eu... — engoli seco. — Eu te fiz alguma coisa? Ela balançou a cabeça, negando. Um alívio estranho atravessou meu peito. Não era culpa minha. Não diretamente. Mas ainda assim, eu me sen
Capítulo 46 Ezequiel Costa Júnior — Lembro de algumas coisas… — respondi, com a voz baixa, os olhos ainda nela. — Não tudo. Mas tem momentos, cenas… que aparecem do nada. Como se algo novo destravasse uma parte esquecida da minha mente. Mariana ficou em silêncio, vestindo a blusa com delicadeza. Seu olhar procurava o meu o tempo todo, como se cada palavra minha fosse vital. — Isso é um bom sinal. — Acho que logo vou lembrar de tudo — completei. — Cada detalhe. Tomei a peça de roupa seguinte em mãos, com a intenção de ajudá-la, mas no instante em que estendi os braços, ela se encolheu. Recuou meio passo, os olhos arregalados por reflexo. — Desculpa — sussurrei, me afastando de imediato. Voltei a sentar na cama, dando espaço, respeitando o limite dela. Embora tenha ficado inquieto, é difícil entender isso de uma hora está tudo bem e outra não posso encostar. Mariana terminou de se vestir em silêncio. Quando ficou pronta, caminhou até mim com passos pequenos e hesitan