nova cidade

Amélia

O táxi deixou a rodoviária para trás, e a cidade começou a se revelar pela janela como um cenário de filme. As luzes refletiam nos prédios de vidro, os canteiros floridos nas avenidas principais pareciam ter saído de uma pintura. O céu, mesmo encoberto pelo anoitecer, estava limpo, e a brisa morna que entrava pela janela entreaberta trazia um perfume de jasmim e asfalto recém-molhado. Laís se empolgava a cada esquina.

— Meu Deus, olha aquele prédio! E essa fonte? Parece coisa de novela! — ela comentava com o rosto colado no vidro, como uma criança em dia de passeio escolar.

Eu, em silêncio, observava. Não podia negar: o lugar era lindo. Muito diferente do que estávamos acostumadas. As ruas pareciam limpas demais, largas demais, organizadas demais. Era como se estivéssemos invadindo um mundo que não nos pertencia. E, mesmo com a cidade me encantando, o medo ainda morava fundo dentro de mim.

Uma angústia, um pressentimento ruim, como se a vida tivesse me levando para a minha desgraça, não sei explicar, mas não me sinto segura.

— Vai dar certo, Amélia — disse Laís, notando meu olhar apreensivo. — Confia.

Eu assenti com um leve sorriso. Queria acreditar. Precisava acreditar, mas meu coração duvidava o tempo todo.

Depois de cerca de vinte minutos, o carro parou em frente ao restaurante. Era imponente, mas ao mesmo tempo acolhedor. A fachada moderna, de vidro e madeira, tinha letreiros dourados com o nome: Casa Aram. Ao lado havia uma pequena construção de dois andares — ali, segundo o motorista, ficavam os quartos dos funcionários.

Descemos do carro, e fomos recebidas por um homem de meia-idade, simpático, com um sorriso fácil e um olhar atento.

— Vocês devem ser as meninas indicadas pela Dona Morgana, certo? — perguntou, estendendo a mão. — Muito prazer. Sou Alberto, gerente do restaurante.

— Isso mesmo! Eu sou a Laís, e essa é a Amélia — respondeu minha amiga, animada como sempre.

— Sejam muito bem-vindas. Vou mostrar o quarto de vocês. Amanhã, começam o treinamento.

O quarto era simples, mas limpo e bem arrumado. Duas camas de solteiro, um armário espaçoso e uma pequena escrivaninha perto da janela. Largamos as malas, e Laís se jogou na cama, exausta.

— Essa cidade parece um sonho! Imagina a gente andando por essas ruas com uniforme chique, ganhando gorjeta, conhecendo gente importante...

— A gente mal chegou, Laís — falei, tentando manter os pés no chão. Mas no fundo, eu também estava ansiosa. Era um recomeço.

Na manhã seguinte, acordamos cedo. O uniforme deixado sobre a escrivaninha era bonito: camisa branca, calça preta, e um avental com o logotipo do restaurante bordado. Vesti com cuidado, prendendo o cabelo num coque apertado. Laís saiu do banheiro empolgada, elogiando o próprio visual.

— A gente tá profissional demais. Se eu não me conhecesse, nem me reconhecia!

Descemos para o restaurante e fomos recebidas por Alberto e uma senhora baixinha e severa chamada Dona Elza, a supervisora de equipe.

— Aqui, pontualidade e postura contam muito — avisou ela, nos guiando pelos bastidores do restaurante. — Vocês vão começar com tarefas mais simples: limpeza de mesas, reposição de utensílios e observação do atendimento. Quando pegarem o ritmo, podem avançar.

O restaurante já estava se preparando para abrir para o almoço. A cozinha fervilhava com panelas, cheiro de alho e cebola dourando na manteiga, o barulho dos pratos sendo empilhados e das ordens sendo gritadas. Tudo era cronometrado, metódico, quase coreografado.

— Aquilo ali é arte — disse Laís, apontando discretamente para o chef que finalizava um prato com tanta precisão que parecia estar pintando uma tela.

— E aquilo ali é tensão — murmurei, olhando para a cara fechada da supervisora.

Fomos orientadas por uma funcionária experiente chamada Rebeca. Ela tinha cabelos castanho-escuros presos num rabo de cavalo e falava rápido, mas com simpatia.

— A regra de ouro: nunca deixar o cliente esperar. E se errarem, assumam o erro, corrijam rápido e sigam em frente. Aqui não tem tempo pra drama.

Passei a manhã inteira observando, andando de um lado pro outro com bandejas vazias, limpando talheres, ajeitando guardanapos e tentando não atrapalhar ninguém. A cada pedido que ouvia ser anotado no salão, sentia o coração acelerar. Eu não queria errar. Tinha medo de parecer incapaz. Mas, aos poucos, fui pegando o ritmo.

Laís, como era de se esperar, virou sensação. Já no primeiro dia arrancava sorrisos dos garçons, ajudava clientes idosos a se acomodarem e até contava piadinhas baixinho para aliviar o clima de tensão entre os colegas.

— Se continuar assim, vai ser promovida antes de mim — brinquei no intervalo.

— Aí eu te levo comigo, ué — ela respondeu, me oferecendo um pedaço do pãozinho que pegamos escondidas da cozinha.

À noite, já estávamos exaustas. O restaurante fechava tarde, e os pés doíam como se tivéssemos caminhado quilômetros. De volta ao quarto, desabamos nas camas.

— Sobrevivemos ao primeiro dia — disse Laís, jogando o avental sobre a cadeira.

— Mal posso acreditar. Eu não derrubei nada, não tropecei em ninguém, não chorei no banheiro. Acho que foi uma vitória — falei, rindo.

— Vai ver você é mais forte do que pensa, Amélia.

Fiquei em silêncio por um momento, olhando o teto. Talvez eu fosse. Ainda era cedo pra dizer, mas havia algo reconfortante naquela rotina. Pela primeira vez em muito tempo, me senti parte de algo — útil. Havia futuro naquele lugar. Não sabia por quanto tempo. Não sabia se a sorte ia durar. Mas, por enquanto, tudo estava bem.

Do lado de fora, a cidade iluminada parecia nos dar boas-vindas. Fechei os olhos com um sorriso leve nos lábios. Talvez, só talvez… aqui pudesse ser o começo de uma nova vida.

Mas o destino de Amélia já tinha sido traçado, ela não tinha sorte na vida e isso fica bem claro quando um certo mafioso chegasse na cidade.

Nem mesmo sua amiga iria escapar da irá dos mafiosos, pobre órfã, a vida só lhe dar rasteira.

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