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Capítulo 7: As Cores que Ela Escolhe

O quadro continuava na parede.

Gabriel acordou com a luz do amanhecer batendo direto sobre ele. Os contornos da obra, antes apenas manchas azuis e cinzas, agora pareciam vivas. Como se contassem uma história que ele ainda não entendia — mas que queria desesperadamente decifrar.

Levantou devagar, espreguiçando os músculos cansados da noite mal dormida.

Foi até a mesa e abriu o caderno de anotações. Na página anterior, o nome dela ainda estava lá: Lara. Escrito com firmeza. E logo abaixo, um esboço malfeito de seu rosto.

Na página seguinte, escreveu:

"Hoje vou entender o que ela sente. Não pelas palavras. Mas pelas cores que ela escolhe."

Fechou o caderno e saiu.

Era domingo. Dia mais lento, menos vigilância na mansão. A cidade em ritmo preguiçoso, as pessoas andando mais devagar, cafés cheios de casais e famílias.

Gabriel seguiu até o mesmo café onde Lara às vezes aparecia com Marina. Sentou-se ao fundo, próximo à janela, e pediu um café duplo sem açúcar. Não precisava fingir ser outra pessoa ali. Não naquele momento.

Sacou o celular e abriu o perfil de Marina de novo. Nos stories mais recentes, uma foto de Lara com manchas de tinta nas mãos e um sorriso sujo de azul no rosto. A legenda dizia:

“Domenicale di colore 🎨”

(Domingo de cor.)

A foto fora tirada naquele mesmo dia, poucos minutos antes.

Ela estava pintando.

Gabriel pagou a conta e saiu apressado.

Não seguiu diretamente para a galeria.

Foi até uma das ruas laterais que ele já tinha mapeado, onde sabia que existia uma passagem dos fundos — uma espécie de entrada de serviço por onde os funcionários da galeria costumavam descarregar materiais.

Ali, encontrou uma pilha de latas de tinta vazias e caixas de papelão.

Mas o que chamou sua atenção foi um bloco de folhas rabiscadas esquecidas no topo de uma dessas caixas.

Pegou o bloco com cuidado, como se estivesse violando algo sagrado.

As folhas estavam repletas de estudos: olhos desenhados com carvão, mãos tortas, pássaros presos em gaiolas, algumas frases soltas rabiscadas no canto das folhas.

E uma, em especial, destacava-se entre todas.

Era uma imagem simples: uma garota em pé diante de uma janela. Do lado de fora, um vulto indistinto. Não havia rosto. Não havia nome. Só a sugestão de uma figura no escuro, observando. Sempre observando.

Gabriel ficou imóvel.

A mão dela tinha desenhado isso?

Ela sabia?

Voltou os olhos para o canto inferior da folha. Uma palavra em letra cursiva estava ali, quase apagada.

“Espelho.”

Guardou a folha no bolso, dobrando-a com cuidado.

Naquela mesma noite, voltou ao seu esconderijo e fixou o desenho na parede, ao lado do quadro comprado. Um ao lado do outro. Cores e carvão. Emoção e silêncio.

E passou horas olhando para os dois.

Tentando entender o que Lara via quando fechava os olhos. O que ela sentia quando escolhia pintar em azul e cinza. O que aquela palavra — "espelho" — queria dizer.

Ele era o espelho?

Era a sombra do outro lado da janela?

Ou era só o reflexo do que ela temia virar?

Enquanto pensava, o celular vibrou.

Outro número novo. Outra ameaça.

“Você perdeu a objetividade. Sabemos. Um substituto já foi ativado. Seu contrato será encerrado.”

O sangue gelou.

Gabriel não respondeu.

A mão instintivamente foi até a mochila. A SVD Dragunov ainda estava lá, desmontada. Fria. Silenciosa. Como um lobo que ele não alimentava fazia dias.

Levantou-se e foi até a janela.

A mansão de Leônidas ainda estava lá.

Segura.

Silenciosa.

Mas por quanto tempo?

Se outro atirador tinha sido enviado… Lara estava em perigo. Não apenas por causa do pai. Mas por estar no lugar errado, na hora errada.

Por ser… o motivo errado.

Gabriel fechou a cortina com força.

Andou de um lado pro outro no apartamento, lutando com a única decisão que realmente importava agora:

Ele ia deixá-la morrer… ou ia se tornar o homem que impediria isso?

Passou a madrugada em claro.

No silêncio, montou o rifle de novo. Limpou peça por peça. Como quem prepara um ritual. Mas, dessa vez, não era para matar.

Era para proteger.

A arma não apontaria para Leônidas.

Apontaria para quem viesse em nome do mesmo contrato sujo.

E no final da montagem, antes de encaixar a lente, Gabriel fez algo que nunca tinha feito antes.

Escreveu o nome dela com uma caneta fina no lado interno da coronha de madeira:

Lara.

Porque agora… aquela arma servia a outro propósito.

E ele também.

Gabriel ficou olhando o nome dela gravado na madeira escura da coronha por alguns segundos. Aquilo era mais que um gesto simbólico — era um voto silencioso. Um rompimento.

Nunca, em toda sua carreira, havia se permitido esse tipo de desvio.

Jamais havia se importado com quem estava perto de um alvo.

Mas agora tudo era diferente.

Lara não era só uma distração. Ela era a rachadura.

A rachadura no casco que o mantinha frio, isolado, funcional.

E essa rachadura crescia cada vez mais rápido.

Fechou a mochila com o rifle montado, pegou o caderno e começou a escrever algo diferente.

Dessa vez não era uma observação, nem uma análise. Era quase… uma carta.

“Você não sabe que eu existo de verdade. Não ainda. Mas tem algo em você que me puxou pra fora de um lugar escuro.

Eu era só uma sombra olhando pela lente. Agora… sou alguém que hesita. Que treme. Que escolhe você.

E isso me assusta mais do que qualquer alvo já me assustou.”

Gabriel parou. Leu em silêncio. Depois arrancou a página com calma, dobrou e guardou junto ao desenho que pegara da lixeira.

Aquela folha, com a garota de frente para o vulto na janela, agora significava ainda mais. Era como se Lara tivesse desenhado exatamente o que ele era. O reflexo dela — ou o que ela temia encontrar.

Mas ele queria mais.

Queria saber que música ela escutava quando pintava. Quais eram os medos que ela guardava entre uma pincelada e outra. Se ela tinha um passado quebrado. Se acreditava em finais felizes ou se, como ele, já havia perdido isso pelo caminho.

Precisava de mais do que janelas entre eles.

No meio da madrugada, sem conseguir dormir, ele voltou ao café onde ela costumava ir. Sabia que o local ficava fechado à noite, mas o que ele buscava não estava atrás do balcão. Estava nas paredes.

Nos murais pintados pelos clientes.

Na lateral do prédio, havia um espaço de cimento onde os frequentadores podiam deixar desenhos, frases, poemas.

E ali, entre corações partidos, declarações bobas e piadas de bêbado, ele encontrou algo diferente.

Uma frase pintada com pincel fino, em letras delicadas:

“A cor que você escolhe diz mais sobre seu coração do que qualquer palavra.”

Assinada com um simples “L.”

Lara.

Ele passou os dedos por cima da tinta seca. Era antiga. Mas ainda estava ali, firme, como se resistisse ao tempo.

Foi embora naquele instante com o peito apertado, mas não de dor — de urgência.

Porque agora ele entendia.

Entendia por que as obras dela sempre começavam com azul, mas terminavam em cinza.

Por que os desenhos nunca tinham rostos definidos, só expressões ambíguas.

Ela também estava procurando alguém.

Alguém do outro lado da janela.

E talvez… só talvez… tivesse começado a pressentir que ele estava lá.

Quando voltou para o prédio abandonado, o céu já estava clareando.

No telhado, com a cidade acordando abaixo, ele se posicionou.

Montou o rifle de novo, agora completo.

Olhou pelo visor.

A janela dela ainda estava fechada.

Mas, pela primeira vez, Gabriel não mirava. Apenas… observava.

Sem planos de apertar o gatilho.

Sem pressa.

Como quem esperava que um dia… ela também olhasse de volta.

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