Quando os sussurros viram testemunhas.
MELISSA CARDOSO TAVARES
Aquele dia começou com passos escorregando no carpete e o celular vibrando como se quisesse vomitar notícias. Entrei no escritório e o mundo digital já estava diferente: telas com pedidos de autenticação que não reconhecia, pastas que antes abriam como portas íntimas agora devolviam um recado seco — acesso negado. Trocas de senha automáticas, tokens expirados; a sensação que me acometeu foi de mãos invisíveis trancando gavetas.
Respirei fundo e procurei Henrique nos nossos canais — ele não atendia. Mandava mensagem, nada. Telefone? Caixa postal. Primeiro sinal: gente que manipula, gente que foge.
Fui ao RH, a passos curtos. Sofia e Beatriz estavam na antessala, com aquela expressão que mistura culpa e prevenção. Olhei para os dois rostos e reparei na rapidez com que tentavam ajeitar a postura, como se um acorde desafinado fosse óbvio demais.
— O que aconteceu? — perguntei, tentando manter a voz firme.
— Bloqueio de segu