Toda traição começa no olhar.
LEONARDO CASSANI
A sala de exibição estava fria como uma antecâmara de necrotério. Luz indireta, poltronas duras, o ar condicionado trabalhando sem piedade. Carvalho apagou a última luz e eu senti o mundo encolher até os contornos do quadro. Ravi se sentou ao meu lado, a postura clínica de sempre; ele segurava a caneca de café como quem segura a última prova de sanidade. Havia silêncio, um tipo de prontidão que não é tomado por quem espera uma notícia: é comum a quem já conhece as notícias ruins e só quer confirmar.
Coloquei o laptop no centro da mesa. As fitas digitais estavam hashadas, lacradas — documentação perfeita para uma cadeia de custódia. Isso não era espetáculo; era prova. Ainda assim, quando apertei o play, meu corpo inteiro reagiu como se acendesse uma ferida antiga.
A imagem entrou mórbida e precisa: Lorenzo, a sua maneira elegante, o cenho fechado, o smoking impecável mesmo de madrugada; a sala dele com os livros, a garrafa de uísque ao