Entre céus e decisões, a isca cruza fronteiras
ANDRÉ MARTINS
Saímos às cinco da manhã. A pista do aeroporto de Guarulhos ainda dormia em névoa quando entramos no avião comercial: gente com olheiras, cafés na mão, um mundo que não sabe que, naquele dia, estava levando uma mulher para fora do país porque um mafioso decidiu sentir fome. Sento ao lado da Norman e olho para ela. Nunca a vi tão pequena quanto naquele momento — o rosto sulcado de preocupação, o cabelo preso, as mãos inquietas sobre a bolsa.
Meu coração é um motor desregulado. Vim porque a carta dizia “ratos” e “gato”, e porque Leo não me atendeu. Vim também porque quero estar perto de algo que me consome desde o escritório: a imagem dela fazendo café, os olhos que brilhavam quando falávamos de pequenos detalhes. Confessar isso me deixa vulnerável ao ponto de doer, e a vulnerabilidade me obriga a controlar tudo ao redor. Então controlo: documentos prontos, histórias ensaiadas, telefones com contatos limpos. Proteção tem logí