Quando o medo muda de dono
LEONARDO CASSANI
Entro na sala de reuniões como se entrasse numa câmara de comando: passos firmes, respiração medida. Não há calor pela porta aberta — só a necessidade de ação que me prende o corpo. À frente, as telas brilham: mapas, rotas AIS, interceptações de comunicações, fluxos bancários desenhados como veias. Cada informação é um pulso; cada pulso precisa de corte cirúrgico.
Maya projeta na maior das telas um fluxo interminável de transferências: shell companies, contas fantasmas, endereços que se apagam no rastro. O cursor salta de uma conta para outra como uma aranha tecendo. Dr. Carvalho me traz um relatório com IPs, servidores espelhados, nós de redundância. Navarro enviou as latitudes com o cronograma. Tudo encaixa como peça de um relógio vivo.
— Maya — digo, seco — confirma o corte de comunicações entre o datacenter na Alemanha e os servidores em Marselha. Se eu quero que esse contrato digital desapareça, a redundância precisa cair primeiro.
May