Quando um homem põe o passado no bolso e aprende a respirar presente
AMARO CASSANI
Orlando amanhece diferente. O sol entra pela janela como quem tem pressa de me ver inteiro. É uma sensação que eu conheço — lembro dos meus vinte anos, daquela inquietação boa no dia em que ia ver a Laura, da mesma ansiedade que me sacudia antes do casamento. Sorrio sozinho.
Caralho, como uma mulher pode te tirar do chão assim? Não é só o sexo — embora não minta a fome — é a presença. É querer estar perto, é o desejo de ver o sorriso dela pela manhã como se fosse prêmio de dever cumprido. Sinto-me uma criança que fez todas as lições e ganhou um passeio da escola. Eu rio alto, escuto o eco do riso pela casa imensa e me pergunto: quem é esse homem que, há menos de um mês, vivia só com a palavra vingança na boca? Hoje, penso só nela.
Pego o espelho do corredor e encaro o rosto. As marcas ainda estão aí: anos, decisões, feridas. Mas algo mudou. A pontada de culpa que o nome Laura costumava me dar se disfarç