Quando a vingança vira rotina
LEONARDO CASSANI
Caralho. Essa merda de aliança entre meu pai e o Vittório nos enfiou num buraco de ratazanas. Não é só casamento arranjado; é pacto com quem negocia morte e dinheiro sujo como se fosse mesa posta. Eles se cumprimentam com sorrisos de porco e depois apertam gatilhos nas costas um do outro. Respeito e ódio convivem ali — e eu herdo esse nó.
Não durmo direito há cinco dias. Nem lembro a última vez que fechei o olho sem ver o rifle, a mira vermelha no vidro de uma janela, um corpo caindo no asfalto. Vim do Brasil com o coração apertado e a mira no pensamento. Norman — Norman, porra — lateja na cabeça como dor que não cala. Quis trazê-la comigo, mas com Vittório vivo sei que ela vira alvo. Então eu faço o que sei: preparo a guerra.
Sento no parapeito do prédio, a luneta grudada no olho como se fosse extensão de mim. O AWM .338 Lapua está apoiado na almofada, o cano comprido e frio parecendo um dedo apontado para a cidade. Não é arma de exibici