Quando a culpa encontra redenção
AMARO CASSANI
Ela falava, e cada palavra entrava em mim como lâmina fina.
Cinco anos de traição. Cinco anos de se deitar com um homem e saber que aquele homem pertencia a outros corpos. Cinco anos acreditando que o amor era abrigo — mas que, na prática, era só corrente de ferro puxando para o fundo.
E ali, ouvindo Noêmia contar da paixão cega, do altar manchado de mentira, da virgindade guardada para um homem que não a respeitou, eu me vi.
Vi Laura.
Vi a mulher que eu jurei amar e traí sem piedade. Vi os olhos dela quando me pegou mentindo, o silêncio sufocado que ela guardou até que tudo ruiu. Na época, eu disse a mim mesmo que era juventude, testosterona, um impulso qualquer. Mas agora, frente a Noêmia, percebi que não: foi covardia. Eu arranquei da Laura aquilo que a fazia acreditar no amor.
E de repente eu entendia a dor dela. Não porque alguém me traiu, mas porque eu escutava da boca de outra mulher o retrato exato da destruição que eu mesmo cau