Quando acordar junto assusta mais do que a noite
Norman Andrade Paixão
A primeira coisa que senti foi o calor. Não da manhã — do toque dele. Um roçar firme que veio de longe, como se atravessasse um sonho, e me puxasse pela cintura de volta para a realidade. Demorei um segundo para entender onde estava. Outro para lembrar com quem.
A suíte. Mônaco. Leonardo.
Abri os olhos devagar. As cortinas filtravam a luz em faixas claras, e ele estava ali, inclinado sobre mim, os olhos escuros e atentos como se me vigiassem desde antes do amanhecer. Não falou “bom dia”. Sorriu pouco, daquele jeito que faz o estômago descer um degrau, e a voz veio grave, perto demais da minha boca:
— Acorda, minha noiva.
O som da palavra incendiou minha pele. “Minha”. “Noiva”. O anel no meu dedo brilhou como resposta. Eu deveria ter feito mil perguntas, eu deveria ter recuado — mas o corpo é sempre o primeiro a dizer “sim”. Ele me beijou. Primeiro calmo, como quem pede licença, depois fundo, como quem toma posse. A