Quando a verdade deixa de ser sussurro.
LEONARDO CASSANI
O andar executivo acordava devagar, como se o prédio respirasse antes de começar a funcionar. O som dos saltos nas primeiras horas da manhã era uma sinfonia previsível — cada uma das secretárias tinha o próprio ritmo, a própria pressa, o próprio perfume que denunciava intenções.
Da minha sala de vidro, via tudo. Beatriz equilibrava uma pilha de pastas, tentando parecer indispensável. Juliana digitava rápido demais, como se velocidade compensasse insegurança. Melissa deslizava os dedos sobre o celular, fingindo trabalho enquanto rastreava fofocas. Clara cruzava o corredor com a elegância de quem sabia demais. E, claro, Sofia, sempre séria, sempre com o tablet colado ao corpo, parecia carregar o peso do mundo em planilhas.
Entre elas, duas presenças se destacavam — por motivos opostos.
Norman, à mesa de frente para a minha sala, postura impecável, olhos focados. Havia nela algo que não se explicava com palavras — um tipo de paz q