Quando a fuga começa antes da partida

NORMAN ANDRADE CASSANI

Fico olhando para ele e sinto uma mistura estranha: alívio, medo, culpa. Ele fala com uma calma que me dá calor e pavor ao mesmo tempo — como se matar fosse um almoço rotineiro. Eu sei que ele não é um monstro; sei que ele é leal ao Leo e que está ali por escolha. Ainda assim, a ideia de que alguém possa tirar uma vida por minha causa me deixa sem ar.

— Então… — digo, tentando não quebrar. — O que acontece agora? Como a gente sai daqui sem assustar meus pais?

André respira fundo, o rosto que se endurece quando fala negócios. — A primeira coisa é tirar você da cidade. Disfarçar a saída. O Ravi vai comigo. Vamos arrumar duas malas só com o essencial — documentos, remédios, um pouco de roupa. Não vamos provocar. Você finge que foi convidada a trabalhar com o Leo fora.

Sorrio pequeno; a mentira convence até a mim se eu a repito em voz alta. Ele me olha e, por um segundo, vejo que a preocupação foi mais do que estratégica: o cuid