Quando o jogo vira sangue e herança
VITTÓRIO BIANCHI
A ligação me traz o gosto metálico do fracasso. Me informam os nomes um a um: mortos, abatidos, 36 peças que eu não queria perder. Não perco a calma; uso a raiva como lente para enxergar melhor. Cada queda tem um nome; cada nome tem rosto; cada rosto acende um plano de resposta. Não há espetáculo, só cálculo.
O motivo da minha ira não se resume ao número. Três cortes me mordem a carne: primeiro, descobrir que Leonardo está acabando com meu reino, minando meus negócios, três galpões queimados, prejuízo de bilhões.
Segundo, Saber que Norman já não está na casa dos pais — desapareceu antes de eu poder tocar na tecla certa; terceiro, entender que Amaro se casou com Noêmia. Casou. O verbo me faz rir por dentro, porque casamento é sentença e aliança, e ele, Amaro, assinou sua própria exposição. Agora Noêmia tem nome, tem um documento, tem endereço que só preciso descobrir, que eu posso transformar em ponte ou jaula. Isso inflama algo qu