Quando a guerra pede herança
AMARO CASSANI
O jantar terminou em silêncio confortável. O aroma do molho ainda pairava no ar, misturado ao vinho tinto que descansava na taça. Eu observava Noêmia recolher os pratos com a governanta, a forma delicada com que ela agradecia cada gesto da velha senhora. Por um instante, senti um fragmento de lar — algo que não tinha nome em minha vida há décadas.
Ela voltou para a mesa, colocou a mão sobre o encosto da minha cadeira e sorriu com suavidade:
— Eu vou preparar seu banho, Amaro. A água quente vai ajudar a descansar os músculos.
Assenti, firme. — Vá. Eu ligo para o Leo e já subo.
Ela não questionou. Apenas se afastou pelo corredor, deixando atrás de si o perfume discreto de sabonete. O som dos passos dela subindo a escada foi se dissolvendo, até restar apenas o silêncio da casa.
Peguei o celular do bolso interno do paletó. A tela refletia meu rosto: um homem que parecia cansado, mas que, no fundo, apenas vestia a máscara da fraqueza quando lhe er