O TELEFONEMA DA GUERRA

Quando a aparência vira arma

AMARO CASSANI

Entrei em casa com passos medidos — o suficiente para que a governanta levantasse o olhar e Noêmia, na cozinha, oferecesse o braço. A bengala? Um adereço que uso quando convém. Não porque eu não possa andar sem ela; porque, se eu aparentar depender, alguém permanece. É assim que se prende atenção. Hoje precisava disso mais do que nunca.

A cozinha cheirava a alho e manteiga; Noêmia e a governanta riam baixinho, picando ervas. A domesticidade me dava nostalgia pela sua normalidade. Eu não vim buscar normalidade. Vim buscar companhia, presença, um laço que não se desfaz com medo — e ela estava aqui.

Ouvi o telefone tocar no escritório.

— Já volto — murmurei, e segui para o escritório. Fechar a porta era a cortina entre o teatro e a ação. Afastei a bengala da mesa e caminhei firme até o telefone, como quem monta uma armadilha com calma.

O toque cortou o ar como lâmina. Peguei a linha sem pressa, engolindo o ar antes de falar.

— Vittório. — disse
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