O café da manhã parecia não ter gosto algum. O cheiro de fumaça ainda estava nas minhas roupas, no meu cabelo, na lembrança de tudo que havia se perdido. Eu mexia a colher na xícara de café frio quando ouvi passos firmes se aproximando.
Levantei o olhar e o vi.
Antônio.
Ele parecia exausto, o rosto marcado pela noite sem dormir. As mãos ainda estavam sujas de fuligem, e os olhos — ah, os olhos — traziam aquele misto de dor e arrependimento que eu conhecia bem.
Sem dizer nada, ele puxou uma cadeira e sentou-se diante de mim.
Por alguns segundos, ficamos em silêncio, apenas o som distante do vento passando pelas árvores.
Então ele respirou fundo e segurou minhas mãos.
— Aurora… me perdoa. — A voz saiu rouca, sincera. — Eu não devia ter falado daquele jeito com você. Eu estava com a cabeça fora do lugar, vendo tudo pegando fogo, achando que ia tudo se acabar… Eu só consegui reagir.
Olhei pra ele.
O jeito como falava, a culpa estampada no olhar, o aperto firme das mãos — tudo n