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CAPÍTULO 4 - PRIMEIRO DIA

Nina acordou na segunda-feira às cinco da manhã, duas horas antes do despertador tocar. Havia passado o fim de semana inteiro oscilando entre a euforia de ter conseguido a vaga dos seus sonhos e o pânico de ter que trabalhar diretamente com Alexander Stone - o homem que havia ocupado seus pensamentos de forma completamente inadequada para alguém que seria seu chefe.

Ela se levantou e foi até o espelho do banheiro, observando os círculos escuros sob os olhos. Havia dormido mal, sonhando com olhos verdes e situações embaraçosas envolvendo café derramado em reuniões importantes.

— Você consegue, Nina.

Disse para seu reflexo, tentando se convencer.

— É só trabalho. Ele é seu chefe, você é uma funcionária. Simples assim.

Mas nada sobre Alexander Stone parecia simples.

Nina tomou um banho longo, tentando relaxar, e depois passou quase uma hora decidindo o que vestir. Queria parecer profissional, competente, mas não exagerada. Finalmente optou por uma calça social preta, uma blusa branca de manga longa e um blazer azul marinho. Sapatos baixos - ela havia aprendido a lição sobre saltos altos e sua tendência natural à falta de coordenação.

Prendeu os cabelos em um coque baixo, passou uma maquiagem discreta e se olhou no espelho uma última vez. Parecia uma executiva de verdade, não a garota estabanada que derramava café em clientes.

O trajeto até a CyberShield Tower pareceu mais longo que na terça-feira anterior. Nina chegou com quinze minutos de antecedência e ficou parada na calçada, observando o movimento matinal de executivos entrando e saindo do prédio. Todos pareciam tão confiantes, tão seguros de seus lugares naquele mundo corporativo.

— Você pertence aqui.

Murmurou para si mesma, respirando fundo antes de entrar.

O lobby estava movimentado, mas Nina sabia exatamente onde ir. Sarah havia lhe dado instruções detalhadas: vigésimo primeiro andar, departamento de Segurança Cibernética, perguntar por Dra. Elena Rodriguez, a diretora do departamento.

No elevador, Nina se viu cercada por pessoas que claramente trabalhavam ali há anos. Elas conversavam sobre projetos, reuniões, deadlines, usando uma linguagem corporativa que Nina estava ansiosa para dominar.

O vigésimo primeiro andar era diferente do quadragésimo quarto onde havia sido a reunião. Menos luxuoso, mais funcional, com um ambiente que lembrava mais um laboratório de tecnologia do que um escritório tradicional. Havia várias salas com paredes de vidro, onde Nina podia ver pessoas trabalhando em computadores com múltiplas telas, códigos complexos preenchendo as telas.

— Você deve ser Nina Santos.

Uma voz feminina a fez se virar. Uma mulher de cerca de quarenta anos se aproximava, com cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e óculos de armação vermelha. Ela usava jeans e uma camiseta com o logo da CyberShield, um visual muito mais casual do que Nina esperava.

— Sim, sou eu. Dra. Rodriguez?

— Elena, por favor. Bem-vinda à equipe!

Elena estendeu a mão com um sorriso caloroso.

— Vamos, vou te mostrar onde você vai trabalhar e apresentar o pessoal.

Nina seguiu Elena por um corredor repleto de salas de reunião e estações de trabalho. O ambiente era vibrante, com pessoas jovens trabalhando em grupos, discussões animadas sobre códigos e sistemas, e uma energia que Nina achou contagiante.

— Aqui é onde a mágica acontece.

Elena disse, parando em frente a uma sala ampla com cerca de vinte estações de trabalho.

— Nossa equipe de desenvolvimento de protocolos de segurança. Você vai trabalhar diretamente comigo e com alguns dos nossos melhores especialistas.

Elena a conduziu até uma estação de trabalho perto da janela, com dois monitores grandes, um computador de última geração e uma cadeira ergonômica que parecia mais confortável que qualquer móvel que Nina possuía em casa.

— Esta é sua mesa. Já configuramos seu acesso ao sistema e criamos suas credenciais. Ah, e isto é para você.

Elena entregou a Nina um crachá com sua foto e o logo da CyberShield Corp. Ver seu nome impresso como "Nina Santos - Trainee - Segurança Cibernética" fez algo se apertar no peito de Nina. Era real. Ela realmente estava ali.

— Obrigada. Ainda não acredito que estou aqui.

— Acredite. O Sr. Stone não escolhe pessoas por acaso. Se você está aqui, é porque merece estar.

Elena apresentou Nina aos outros membros da equipe. Havia programadores, analistas de segurança, especialistas em criptografia, todos com idades entre vinte e cinco e quarenta anos. Todos foram receptivos e pareciam genuinamente interessados em conhecê-la.

— Nina, você vai começar trabalhando em um projeto piloto que estamos desenvolvendo.

Elena explicou, sentando-se ao lado da estação de trabalho de Nina.

— É um novo protocolo de autenticação para transações bancárias. Nada muito complexo para começar, mas vai te dar uma boa base sobre como trabalhamos aqui.

Nina ligou o computador e fez login no sistema. A interface era intuitiva, mas claramente muito mais avançada do que qualquer coisa que ela havia usado antes. Elena passou a manhã explicando os projetos em andamento, a estrutura da equipe e as expectativas para os próximos meses.

Por volta das dez horas, Nina estava começando a se sentir mais confortável quando Elena recebeu uma ligação.

— Claro, Sr. Stone. Ela está aqui comigo... Sim, senhor. Vamos subir agora.

Elena desligou e se virou para Nina.

— O Sr. Stone quer ver como você está se adaptando. Vamos até a sala dele.

O estômago de Nina deu uma cambalhota. Ela havia conseguido ficar quase três horas sem pensar em Alex, concentrada no trabalho e nas novas informações. Agora, a perspectiva de vê-lo novamente fez todas as borboletas voltarem.

— Algum problema?

Elena perguntou, notando a expressão de Nina.

— Não, não. Só... nervosismo normal do primeiro dia.

— Relaxe. O Sr. Stone pode parecer intimidador, mas ele é justo. E claramente vê potencial em você, senão não teria criado esse programa.

O elevador até o quadragésimo quinto andar pareceu mais rápido desta vez. Sarah as recebeu com seu sorriso profissional habitual.

— Dra. Rodriguez, Srta. Santos. O Sr. Stone as aguarda.

Nina tentou controlar a respiração enquanto seguiam pelo corredor familiar. Quando Sarah bateu na porta e eles ouviram o "Entre" grave e familiar, Nina sentiu seu coração acelerar.

Alex estava de pé atrás de sua mesa, falando ao telefone. Ele fez sinal para que se sentassem e continuou a conversa, que parecia ser sobre algum contrato internacional. Nina aproveitou para observá-lo discretamente.

Ele usava um terno cinza escuro que parecia ter sido feito sob medida, uma camisa branca impecável e uma gravata azul marinho. Os cabelos estavam perfeitamente arrumados, e ele gesticulava levemente enquanto falava, demonstrando uma autoridade natural que Nina achou... atraente.

"Para com isso, Nina," ela se repreendeu mentalmente. "Ele é seu chefe."

— Desculpem a demora.

Alex disse, desligando o telefone e se dirigindo a elas.

— Elena, como está nossa nova trainee, se adaptando?

— Muito bem, Sr. Stone. Nina é rápida para aprender e fez perguntas muito pertinentes sobre o projeto que estamos desenvolvendo.

Alex se virou para Nina, e quando seus olhos se encontraram, ela sentiu aquela mesma sensação estranha no estômago.

— E você, Nina? Como está sendo o primeiro dia?

— Ótimo, Sr. Stone. A equipe da Dra. Rodriguez é muito acolhedora, e o projeto em que vou trabalhar parece fascinante.

— Que bom ouvir isso.

Alex se apoiou na mesa, ficando mais próximo delas.

— Elena, você poderia nos dar alguns minutos? Gostaria de conversar com Nina sobre alguns aspectos específicos do programa.

— Claro. Nina, nos vemos lá embaixo.

Elena saiu, deixando Nina sozinha com Alex novamente. O silêncio que se seguiu foi carregado de uma tensão que Nina não sabia como interpretar.

— Como você está se sentindo realmente?

Alex perguntou, sua voz mais suave do que o tom profissional que havia usado na frente de Elena.

— Honestamente? Um pouco sobrecarregada, mas empolgada. É muito diferente de tudo que eu já fiz.

— É normal se sentir assim. Você está saindo de um ambiente completamente diferente para um dos departamentos mais avançados tecnologicamente do mundo.

Alex caminhou até a janela, e Nina se permitiu observar sua silhueta contra a luz.

— Posso fazer uma pergunta?

Nina disse, surpreendendo a si mesma com sua coragem.

— Claro.

— Por que você criou esse programa? Quero dizer, a CyberShield poderia facilmente contratar pessoas com experiência. Por que dar uma chance para quem não tem?

Alex se virou para encará-la, e Nina viu algo em seus olhos que parecia... pessoal.

— Porque eu acredito que talento e potencial são mais importantes que experiência. E porque...

Ele hesitou por um momento.

— Porque eu sei como é não ter oportunidades. Meu avô sempre me ensinou que quando você tem sucesso, tem a responsabilidade de abrir portas para outros.

— Seu avô parece ser uma pessoa especial.

— Era. Ele morreu quando eu estava na faculdade, mas tudo que construí foi baseado nos valores que ele me ensinou.

Havia algo na voz de Alex que fez Nina querer saber mais, mas ela percebeu que estavam entrando em território pessoal demais para uma conversa entre chefe e funcionária.

— Bem, eu sou muito grata pela oportunidade. Não vou decepcioná-lo.

— Tenho certeza de que não.

Alex voltou para sua mesa.

— Nina, posso dar um conselho?

— Claro.

— Não tente ser perfeita. Cometa erros, faça perguntas, aprenda. O objetivo deste programa não é que vocês já saibam tudo, mas que descubram do que são capazes.

Nina sorriu, sentindo-se mais relaxada.

— Obrigada. Isso... ajuda.

— Ótimo. Agora volte ao trabalho. Elena está ansiosa para ver o que você pode fazer.

Nina se levantou para sair, mas quando chegou à porta, Alex a chamou novamente.

— Nina?

— Sim?

— Bem-vinda à CyberShield Corp. Oficialmente, desta vez.

O sorriso que ele lhe deu fez algo estranho acontecer no peito de Nina. Ela saiu da sala com as pernas ligeiramente trêmulas, mas desta vez não era apenas nervosismo. Era algo muito mais perigoso.

O resto do dia passou rapidamente. Nina mergulhou no projeto que Elena havia lhe designado, descobrindo que sua formação teórica se traduzia bem para aplicações práticas. Ela fez várias perguntas, sugeriu algumas modificações no código e até mesmo identificou uma possível vulnerabilidade que a equipe havia perdido.

— Impressionante.

Comentou Marcus, um dos programadores seniores, quando Nina explicou sua descoberta.

— Você tem um olho natural para isso.

Quando chegou a hora do almoço, Nina se juntou a alguns colegas na cafeteria da empresa, localizada no quadragésimo terceiro andar. A vista era espetacular, e a comida era muito melhor do que ela esperava.

— Então, como está sendo trabalhar diretamente com o Stone?

Perguntou Carla, uma analista de segurança.

— O que quer dizer?

— Bem, ele supervisiona pessoalmente o programa trainee, não é? Isso é inédito. Normalmente, ele delega esse tipo de coisa.

Nina quase engasgou com o sanduíche.

— Ele supervisiona pessoalmente?

— Claro. Você não sabia? Ele vai acompanhar o progresso de vocês semanalmente, revisar seus projetos, dar feedback direto. É um privilégio e tanto.

Nina sentiu o estômago se apertar. Ela havia pensado que, depois da conversa daquela manhã, suas interações com Alex seriam limitadas. Descobrir que ele estaria acompanhando seu trabalho de perto fez todas as suas preocupações voltarem.

Como ela conseguiria se concentrar no trabalho sabendo que ele estaria observando cada movimento seu? Como manteria a compostura profissional quando a simples presença dele a fazia se sentir como uma adolescente com uma paixonite?

— Nina? Você está bem?

Carla perguntou, notando que ela havia parado de comer.

— Sim, sim. Só... processando todas as informações do primeiro dia.

— É normal. Você vai se acostumar. E olha, trabalhar diretamente com o Stone é uma oportunidade incrível. Ele é exigente, mas justo. E dizem que ele tem um olho excepcional para talentos.

Nina assentiu, tentando parecer tranquila. Mas, por dentro, ela sabia que os próximos seis meses seriam muito mais desafiadores do que havia imaginado. E não apenas profissionalmente.

Quando voltou para sua mesa após o almoço, havia um e-mail de Sarah Mitchell em sua caixa de entrada:

"Srta. Santos, o Sr. Stone gostaria de agendar reuniões semanais para acompanhar seu progresso no programa. Todas as sextas-feiras às 16h, começando esta semana. Por favor, confirme o recebimento. Atenciosamente, Sarah Mitchell."

Nina olhou para a tela por um longo momento antes de responder, confirmando. Sextas-feiras às quatro da tarde. Reuniões semanais. Com Alexander Stone.

— Ai, meu Deus.

Murmurou baixinho, apoiando a cabeça nas mãos.

Ela havia conseguido a oportunidade dos seus sonhos, mas estava começando a suspeitar que o preço seria sua sanidade mental.

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