Eyla sentiu seu corpo enrijecer ao ouvir as palavras de Adrian. Sua ida para a alcateia dele. Deixar sua vida para trás. Num lugar rodeada por lobos humanos. Por um mundo que, até poucos dias atrás, ela sequer sabia que existia.Seu coração disparou.— O quê? — Sua voz saiu esganiçada, o olhar arregalado preso ao dele. — Eu mal estou lidando com essa história de lobisomens e profecias e agora você quer que eu me mude? Para viver cercada por lobos?Ela deu um passo para trás, tentando processar a avalanche de informação. O pensamento de acordar todos os dias em um lugar dominado por seres sobrenaturais a deixava atordoada. Que outras criaturas existiam por aí? Vampiros? Demônios? Bruxas?Ela prendeu a respiração.— Meu Deus… O que mais existe nesse mundo? Vou abrir uma porta e dar de cara com um vampiro tomando um drink de sangue? — Ela passou as mãos pelos cabelos, rindo sem humor. — Eu não posso simplesmente largar tudo assim!Adrian permaneceu em silêncio por um instante, observando
O quarto estava mergulhado em uma penumbra confortável. O calor dos corpos ainda pairava no ar, e o som da respiração de Eyla, tranquila e ritmada, fazia um contraste com o turbilhão de pensamentos na mente de Adrian. Ele a observava, a pele macia iluminada pela luz fraca da lua que se infiltrava pela janela.Ele passou a mão pelos cabelos, exalando um suspiro contido. Ela estava ali, vulnerável, entregue, e tudo dentro dele gritava para protegê-la. Seu lobo interior rugia em inquietação, dividindo-se entre o instinto de envolvê-la com o corpo e alma, e o receio de que não soubesse protegê-la do que viria.— Como vamos mantê-la segura? — perguntou-se em silêncio, não esperando resposta, mas ouvindo o eco de seu lobo pulsando no fundo de sua mente.— "Ela é nossa", seu lobo respondeu, seu tom uma mistura de reverência e desejo. — "Agora que a temos, jamais deixaremos que a toquem."Adrian assentiu, sentindo uma satisfação primal percorrer seu corpo. Ter Eyla ao seu lado completava algo
A sala do conselho da alcateia estava mergulhada em tensão. Os anciões estavam sentados em meia-lua, observando Vark com olhos críticos.O ancião astuto, havia conseguido uma audiência oficial, algo raro, com a alegação de ter informações cruciais.— O Alfa está fora de controle — disse Vark, andando de um lado ao outro. — Desde sua visita ao mundo humano, naquela conferência de energia sustentável, seu comportamento mudou. Ele está... enfeitiçado.Um murmúrio percorreu os mais velhos.— E o que sugere? — indagou um dos anciões, a voz pausada, porém grave.— Que reavaliemos sua posição como líder. Ele se envolveu com uma humana. Quebrou nossas leis. E agora, pelas minhas fontes eles estão a caminho daqui! Em nossa terra, sob nosso teto!Tor, que até então permanecia em silêncio ao fundo da sala, deu um passo à frente, a postura imponente.— Adrian é nosso Alfa. Ele conquistou esse posto com força, lealdade e honra. E tudo que faz agora é por proteção à alcateia. Os lobos traidores que
A viagem até a alcateia foi silenciosa. Eyla olhava pela janela, observando a paisagem mudar à medida que se aproximavam do que agora seria seu novo lar. As árvores densas, a estrada sinuosa e o ar fresco e carregado de umidade davam ao lugar uma atmosfera selvagem, quase intocada.Adrian dirigia com uma expressão sombria. Desde que recebera a ligação de seu beta, sua postura havia mudado. Ele estava mais tenso, os máximos sinais de sua preocupação refletidos nos dedos que apertavam o volante com força desnecessária.— Ainda acho que isso é uma péssima ideia, Adrian — Eyla quebrou o silêncio, abraçando os próprios joelhos no banco do passageiro. — Eu não conheço essas pessoas. Elas sequer querem que eu esteja aqui.Adrian soltou um suspiro pesado, mantendo os olhos na estrada.— Você está mais segura comigo. E eu não me importo com o que eles querem. Você é minha e ponto final.As palavras eram firmes, mas Eyla sabia que a realidade era mais complicada do que isso. Ela já havia entend
Adrian e Eyla seguiram em silêncio pelo corredor de pedras que conduzia ao grande salão. Cada passo ecoava pelas paredes como um lembrete da tensão no ar. Ao cruzarem o limiar do salão, seus olhos foram imediatamente atraídos pelos membros do conselho, já reunidos, suas expressões tensas e cheias de julgamento. Adrian se posicionou ao lado de Eyla, a mão discretamente em sua cintura, como um aviso silencioso de que ela não estava sozinha.Estavam prestes a se apresentar ao conselho quando a porta do grande salão foi aberta abruptamente, silenciando os murmúrios. O ar se tornou mais denso, como se uma força antiga tivesse acabado de atravessar o espaço. Uma figura envolta em vestes escuras entrou, sibilando no ar como se estivesse em comunhão com algo além do que os olhos podiam ver. Era Valesa, a anciã xamã, uma criatura mística que estudava a profecia desde os primórdios. Seus olhos brilhavam em um tom opalescente enquanto avançava pelo salão, um bastão adornado com símbolos arcano
Eyla sentia o peito apertado, o corpo tenso. Ela olhou para Adrian, que ainda parecia um furacão prestes a destruir tudo à sua frente. Mas então, ele se virou para ela, e naquele olhar intenso havia algo além da fúria.Havia necessidade, havia uma promessa silenciosa.Ele caminhou até ela, seus dedos roçando os dela, e então falou, apenas para ela ouvir:— Isso nunca mais vai acontecer. Ninguém jamais tocará em você.Mas a guerra dentro da alcateia ainda não havia acabado.O silêncio que se seguiu à expulsão de Vark foi tenso e carregado de sentimentos conflitantes. Adrian ainda estava de pé no centro do salão, sua presença dominando o espaço, mas os anciões não pareciam satisfeitos. O destino de um traidor havia sido selado, mas a guerra de ideais dentro da alcateia estava longe de terminar.Valesa, a xamã, deu um passo adiante, sua presença imponente e misteriosa. Seus olhos brilharam com uma sabedoria antiga quando ela olhou para Adrian e, em seguida, para Eyla.— Você sabe que iss
A noite era fria e cruel. O vento cortava como lâminas afiadas contra a pele de Vark, mas o frio não vinha somente do clima. Ele sabia que seu exílio era uma sentença pior que a morte. Sem alcateia, um lobo sem matilha, condenado a vagar sem rumo e sem honra, um renegado.Ele se arrastava pela floresta, ferido da surra dos guerreiros e faminto. O peso da humilhação ainda queimava em seu peito. Sua mente fervilhava de ódio por Adrian, por Eyla, por todos que o haviam traído. Mas acima de tudo, ele odiava a si por falhar.Seus passos eram pesados, seu corpo clamava por descanso, mas ele não se permitiria fraquejar. Precisava encontrar um novo caminho, um novo aliado...Foi quando a escuridão se tornou ainda mais densa.Uma presença maligna pairou sobre ele, como se a noite ganhasse olhos. Uma neblina negra surgiu ao seu redor, impedindo-o de ver além de alguns metros. O cheiro de enxofre invadiu suas narinas, e o ar tornou-se pesado.— Um renegado é apenas um cachorro perdido.A voz sib
Mesmo no quarto que Adrian havia lhe dado, um espaço mais afastado da tensão do grande salão, Eyla sentia o peso das expectativas sobre seus ombros. As velas projetavam sombras dançantes nas paredes de pedra, e o fogo na lareira crepitava suavemente, mas nem mesmo o calor era suficiente para dissipar o frio em sua pele.Adrian estava de costas para ela, encostado na janela aberta, seu olhar perdido na vastidão da floresta. Ele tamborilava os dedos no parapeito de madeira, um sinal de inquietação que ela já aprendera a reconhecer.— O que você está pensando? — Eyla quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme.Ele virou-se para ela, os olhos verdes brilhando sob a luz do fogo. Por um momento, Adrian não disse nada, apenas a observou, como se procurasse algo dentro dela, alguma resposta que ele temia escutar em voz alta.— Que queria poder tomar essa decisão por você — admitiu por fim, sua voz rouca. — Mas não posso. E isso me mata.Eyla engoliu em seco. Sabia que não era uma escolha si