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capítulo 5: O próximo passo - O jogo começa no estágio

O celular vibrou sobre a mesa de cabeceira. O nome MELISSA MORETTI iluminou a tela, e um frio percorreu a espinha de Carolina antes mesmo de ela atender.

— Sim?

— Chegou a hora do próximo passo — a voz de Melissa era suave e impositiva, como um fechamento de negócio. — Sua fachada precisa de solidez, e nada é mais sólido do que o ambiente profissional. Vou transferir seu estágio para as Empresas Moretti.

Carolina sentou-se na cama, o coração acelerado. — Transferir? Mas eu já tenho um estágio, na...

— Na consultoria do Sr. Mendes, sim. — Melissa cortou, seu tom deixando claro que já havia mapeado cada detalhe da vida da jovem. — Uma empresa pequena, sem expressão internacional. Já cuidei de tudo com sua faculdade e com seu supervisor. Eles entenderam que uma oportunidade na Moretti é irrecusável para uma aluna de Negócios Internacionais. — Uma pausa calculada. — É um movimento estratégico, minha querida. Aqui, você terá acesso. Proximidade. Contexto. É infinitamente mais crível. A partir de amanhã, você se reportará ao setor de Análise Estratégica.

A ligação terminou antes que Carolina pudesse processar ou questionar. Melissa não dava ordens; ela remodelava a realidade ao seu redor. Seu estágio, a normalidade que ela tanto valorizava, tinha sido apagado com um telefonema. O jogo, de fato, havia começado.

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Antes de encarar a fortaleza de vidro da Moretti, Carolina fez uma parada essencial. Na pequena sala do tio Ricardo, ela colocou uma parte do dinheiro adiantado em suas mãos.

— Olha, tio — disse, forçando um tom de voz leve que soou falso em seus próprios ouvidos. — Consegui uma oportunidade incrível, um estágio nas Empresas Moretti! E... olha só, me adiantaram parte da bolsa-auxílio. Pensei que poderia ajudar com as contas.

Ricardo olhou para o dinheiro, depois para ela, surpreso e emocionado. — Carol… você não precisava… — sua voz falhou.

— Eu sei — ela interrompeu, suave, segurando a mão áspera dele. — Mas quero. Considera um adiantamento. Estamos nos virando, ok?

O tio assentiu, apertando a mão dela com uma força que falava mais que palavras. Carolina sorriu, mas um nó de culpa se formou em seu estômago. Aquela mentira doía mais que qualquer insulto de Célia.

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Na manhã seguinte, Carolina entrou na torre de vidro da Moretti Corporation com o coração batendo forte. O crachá de estagiária prendia de seu pescoço como uma etiqueta de preço. Tudo era imenso, silencioso e um julgamento. Ela se dirigiu à recepção, ainda tentando assimilar a nova realidade, ainda achando que era a única transferida, quando uma voz a fez gelar.

— Carolina? Carol?! O que você está fazendo aqui?

Ela se virou. Lucas estava parado a alguns metros de distância, segurando uma pasta e com o mesmo crachá de estagiário pendurado no pescoço. Seus olhos, inicialmente surpresos, logo se encheram de entusiasmo.

— Não acredito! — ele disse, aproximando-se com um largo sorriso. — Você também foi transferida de surpresa? Que loucura! Me ligaram ontem dizendo que a Moretti tinha um projeto-piloto com a nossa faculdade e selecionou alguns da nossa turma! A Marcela também está aqui, viu? Ela foi para o setor de Comércio Exterior!

Carolina sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Não era só ela. Melissa não a transferiu; ela orquestrou a transferência de vários alunos. Era uma jogada genial e diabólica. Carolina não era uma peça solta e suspeita; ela era apenas mais uma em um grupo de estagiários "sortudos". Uma camuflagem perfeita. Mas significava que suas mentiras agora teriam que ser sustentadas 24 horas por dia, sob o olhar atento de seus melhores amigos.

— S-sim! — ela gaguejou, forçando um sorriso que sentiu rachar nos cantos. — Que coincidência incrível! Mal posso acreditar.

— Coincidência? Isso é sorte pura! — Lucas riu. — Finalmente vamos trabalhar juntos de verdade! E imagina no currículo... Moretti!

O entusiasmo genuíno dele era um punhal no coração de Carolina.

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A apresentação aos supervisores foi rápida. Carolina mal conseguia se concentrar, sua mente rodopiando com as implicações de ter Lucas e Marcela por perto. Foi então que ela o viu.

Christopher Moretti surgiu no corredor, seus passos largos e confidentes fazendo até mesmo os executivos mais antigos se endireitarem. Seu olhar percorreu o grupo de estagiários novos com desinteresse, até que pousou em Carolina. Houve uma pausa quase imperceptível. O reconhecimento foi imediato.

Ele se aproximou, ignorando todos os outros. — Bem-vinda ao mundo real, Srta. Cortez — disse ele, com um sorriso que não chegava aos olhos cinza, que agora a examinavam com renovado interesse. — Da galeria de arte para a planilha de custos. Uma transição... interessante.

Lucas ficou boquiaberto, olhando para Carolina e depois para o herdeiro da empresa.

— Vejo que não veio apenas para fazer café — Christopher continuou, sua voz um tom mais baixo, só para ela ouvir. — Diferente. Vou observar seu desempenho de perto. Algumas pessoas se destacam… outras se tornam parte do mobiliário.

Ele seguiu seu caminho, deixando para trás um silêncio constrangedor e um Lucas que parecia ter mil perguntas fervilhando em seu olhar.

O almoço na cafeteria da empresa foi uma tortura. Lucas não parava de fazer perguntas. — Como ele sabe o seu nome, Carol? E o que ele quis dizer com 'galeria de arte'? Você escondeu que já conhecia o herdeiro da Moretti?

— Foi no evento beneficente, Lucas! — ela explicou, numa versão editada e apressada da verdade. — Eu comentei sobre uma escultura, ele ouviu e... bom, deve ter uma memória boa para nomes. Foi só isso.

Lucas não pareceu totalmente convencido, mas aceitou a explicação por enquanto. Cada pergunta dele era um fio que podia desfazer o tecido de mentiras que ela estava construindo.

Em um andar superior, por trás de um vidro fumê, Melissa observava a cena na cafeteria. Um pequeno e satisfeito sorriso surgiu em seus lábios. A peça estava exatamente onde deveria estar. O tabuleiro estava armado.

No final do dia, ao se despedirem, Christopher passou por ela novamente. — Você é intrigante, Srta. Cortez — disse ele, seu olhar analítico percorrendo seu rosto. — Mas sinto que ainda há camadas aqui que não estou vendo. E adoro um bom desafio.

Ela retribuiu o olhar, tentando esconder o tremor que sentia por dentro. — Espero que valha a pena o esforço de descobrir, senhor Moretti.

Ele se afastou, deixando para trás não apenas um rastro de curiosidade, mas uma teia de perigos. a desconfiança de Christopher, a curiosidade de Lucas e a onipresença de Melissa. Carolina respirou fundo. O próximo passo estava dado, e o jogo tinha começado de verdade. Agora, ela não estava apenas jogando por dinheiro ou por liberdade. Estava jogando para não ser descoberta.

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