39. O despertar do cristal
A aterrissagem na Córsega foi tudo, menos suave. A pista clandestina, escondida numa encosta rochosa varrida pelo vento, era curta e traiçoeira, e o pequeno monomotor de Jean-Pierre, já avariado pelos disparos de Tulio nos Alpes, protestou com um rangido metálico assustador ao tocar o solo irregular. Leonardo, o corpo ainda uma sinfonia de dores agudas, agarrou Sabrina instintivamente, protegendo-a do impacto.
"Bem-vindos à Córsega, o berço dos segredos e das vendetas," Jean-Pierre murmurou, mais pálido que o habitual, enquanto desligava o motor que falhava. "Precisamos de combustível, reparos rápidos, e sair daqui antes que os abutres sintam nosso cheiro." Leonardo não gostou do tom do piloto, nem da atmosfera opressora daquele lugar. A ilha parecia observá-los com mil olhos invisíveis, o silêncio quebrado apenas pelo uivo do vento e pelo marulhar distante das ondas contra as falésias. A sensação de perigo era quase palpável, mais densa do que em qualquer viela escura de sua cidade na