Amor Onde o Silêncio HabitaPT

Mariana entrou na sala apertando o exame de gravidez na mão, e logo viu Luísa segurando um docinho perto da boca de Bruno.

Bruno aceitou a comida sorrindo, sem nenhuma resistência.

Como esposa, Mariana sabia melhor do que ninguém que ele nunca comia comida que outra pessoa lhe oferecesse. Só que, quando era Luísa, o amor da vida dele, essa regra simplesmente não existia.

— Oi, Mariana, você chegou! Por que não me ligou pra eu ir te buscar? — Luísa sorriu, com a maior naturalidade. — Ah, desculpa, esqueci que você não fala.

Mariana forçou um leve sorriso e sentou em silêncio.

De repente, Luísa comentou:

— Ah, ontem eu encontrei o tio do Bruno. Ele parecia bem ansioso pra vocês terem logo um filho.

Na mesma hora, o clima na mesa ficou pesado. Bruno soltou uma risada sarcástica:

— Eu nunca deixaria uma muda ter um filho meu. Imagina se nasce outra criança muda?

Mariana nasceu com uma deficiência, e desde pequena ouviu todo tipo de comentário preconceituoso, mas só as ironias despreocupadas de Bruno realmente a machucavam.

Ela levou a mão à barriga, lembrando do resultado do exame. Sentiu um aperto no peito.

Estava grávida, de um mês.

Antes, tinha pensado que um filho talvez pudesse aproximar o casal.

Agora, percebeu que não valia a pena contar nada para Bruno.

Mariana guardou o exame de gravidez, bem escondido.

Um mês atrás, Bruno estava completamente bêbado quando forçou uma relação com ela.

Bastou uma única vez para que ela engravidasse.

O médico avisou que, pelo corpo dela ser diferente, se interrompesse a gravidez, talvez nunca mais pudesse ter filhos.

Bruno nunca permitiria o nascimento desse bebê, mas Mariana não tinha coragem de abrir mão da criança.

Ela sabia que tinha chegado a hora de ir embora.

Luísa girou os olhos e sorriu:

— Que isso, os mais velhos estão doidos pra ter neto. Se você pensa assim, só arranjando outra pessoa pra isso, né?

A frase veio cheia de segundas intenções, e aquele olhar sedutor dela pousou, sem disfarçar, em Bruno.

Não deu outra, ele também a encarou, com desejo no olhar.

— E você, pode? — Bruno perguntou.

Pedir pra outra mulher ter um filho pra ele, bem na frente da própria esposa... Era cruel demais.

Luísa lutou pra segurar o sorriso e respondeu, fingindo timidez:

— Para, nem brinca com isso. Sua esposa tá aqui.

Ela logo mudou de assunto, colocando comida no prato de Bruno, sem voltar ao tema.

Fez de propósito, só pra deixar ele pendurado, sem se comprometer, era esperta.

Ao ouvir a palavra “esposa”, Bruno lançou um olhar frio pra Mariana. Vendo que ela continuava com aquele jeito submisso, sem nenhuma reação, ele não segurou o deboche.

Mariana sabia o motivo do riso dele. O casamento dos dois, afinal, nunca passou de um acidente.

Seis meses atrás, Bruno insistiu que queria se casar com Luísa.

A família dele era de alto padrão e desprezava a origem simples de Luísa, fazendo de tudo pra impedir o casamento.

Luísa também tinha o orgulho de si. Depois de tantas críticas da mãe de Bruno, acabou indo embora do país.

Foi nessa época que o tio de Bruno caiu na rua e ninguém ajudou, só Mariana o levou ao hospital.

O tio ficou grato, achou Mariana uma boa pessoa e acabou apresentando ela pra Bruno. No impulso, meio que pra desafiar a família, ele resolveu se casar com aquela garota muda, só pra irritar os pais.

Deu certo, os pais ficaram furiosos e, de tão contrariados, decidiram não se meter mais na vida amorosa do filho.

Mariana, no fundo, sempre se sentiu como se tivesse roubado a felicidade de outra pessoa.

Ela era uma pessoa muito sensível e até meio medrosa. Se não fosse pela necessidade de pagar o tratamento da irmã, jamais teria aceitado esse casamento.

De repente, um pensamento passou pela cabeça dela.

E se ela fosse embora? Assim, Bruno e Luísa poderiam ficar juntos e ninguém precisaria saber da gravidez.

Apesar de ter sentimentos por Bruno, ela sabia muito bem que ele não gostava dela.

Baixou os olhos. Ir embora era urgente... Mas, e a irmã dela?