Mariana voltou sozinha para casa.
Começou a arrumar as malas. Não tinha trazido quase nada quando se casou, e também não ficou muito tempo na casa de Bruno para juntar muita coisa. Em uma mala de vinte polegadas, conseguiu guardar tudo.
Com a mala ao lado, ela ficou parada na enorme sala da mansão, passou a mão pela barriga e sentiu uma solidão estranha.
No fundo, sabia que aquele lugar nunca seria o seu lar. Era só uma passagem, e mais cedo ou mais tarde teria que ir embora.
O que realmente preocupava Mariana era a irmã, que ainda estava no hospital.
Sem dinheiro, a irmã não conseguiria sobreviver nem mais um dia.
De repente, a porta da frente se abriu. Mariana se apressou em guardar o celular.
Bruno entrou rapidamente, e ao ver Mariana com a mala, agarrou o pulso dela com força.
— E aí? Fez coisa errada e quer fugir agora?
Mariana ficou confusa. Não fazia ideia do que tinha feito pra irritar ele dessa vez.
Ainda assim, só de pensar em ir embora, sentiu o coração apertar.
Mariana pegou o celular e digitou uma mensagem, dizendo que estava entediada e resolveu separar algumas roupas velhas para doação.
Bruno não desconfiou, mas ficou ainda mais irritado:
— A Luísa tá no hospital por sua causa! Foi aquele frango apimentado que você colocou no prato dela na mesa do almoço que deu a crise de gastroenterite. E você aí, com tempo livre pra arrumar roupa?
— Já que você é a culpada, vai cuidar dela de perto até ela sair do hospital. Entendido?
Mariana ficou paralisada. Como assim ela tinha sido a responsável pela internação de Luísa? Ela nem lembrava de ter colocado frango apimentado no prato dela.
Quis se explicar, mas Bruno não deu nenhuma chance. Puxou Mariana e a empurrou para dentro do carro.
No caminho inteiro, ela tentou mostrar o celular, tentando que Bruno visse sua explicação, mas ele simplesmente ignorou.
Logo, Mariana percebeu que, para ele, a verdade não importava. Bruno só queria encontrar um motivo para dar uma lição nela, deixar claro que, para ele, ela não passava de uma empregada dispensável.
Ela deu um sorriso amargo. Fazer a própria esposa servir de babá pra ex-namorada, Bruno realmente não tinha limites.
Ao chegar no hospital, Bruno foi estacionar o carro e mandou Mariana sozinha para o quarto de Luísa.
Luísa já sabia muito bem o motivo da visita e fingiu delicadeza:
— Poxa, que chato te incomodar, viu? Eu até falei pro Bruno que não precisava, mas ele ficou insistindo, morrendo de preocupação comigo.
Cada palavra parecia uma facada. Mariana forçou um sorriso e foi encher um copo de água para Luísa.
A água da garrafa térmica ainda estava fervendo. Mariana entregou o copo e tentou, com gestos e sons, avisar Luísa para tomar cuidado.
Mas, de repente, a mão de Luísa tremeu e ela acabou derramando toda a água fervente no próprio dorso.
Ela gritou de dor.
Mariana ficou apavorada e, toda atrapalhada, tentou levar Luísa correndo para o banheiro para passar água fria na queimadura. Nesse instante, alguém entrou às pressas no quarto.
Bruno apareceu de repente, praticamente invadindo o local.
Ao ver a mão de Luísa vermelha e começando a descascar por causa da queimadura, ele explodiu:
— O que aconteceu aqui?!
Mariana estava prestes a explicar por gestos, mas Luísa já começou a chorar:
— Eu... eu só pedi pra ela me trazer um copo d'água, aí, do nada, ela ficou brava e jogou água fervendo na minha mão. Tá doendo, Bruno, tá doendo demais...
Os olhos de Mariana se arregalaram.
Não era isso, não era nada disso! Ela tentou protestar, balbuciando sons, mas quanto mais tentava explicar, mais difícil era se fazer entender.
Bruno, tomado pela raiva, lançou sobre Mariana um olhar tão frio quanto uma lâmina.
Num rompante, ele deu um tapa fortíssimo no rosto de Mariana.
O golpe foi tão pesado que ela ficou zonza, e a pele clara da bochecha ficou marcada com uma mancha vermelha e inchada.
E não parou por aí. Bruno agarrou Mariana pela nuca e a obrigou a se ajoelhar diante de Luísa.
— Pede desculpa pra ela, agora!
Mariana, cheia de dor e humilhação, deixou as lágrimas escorrerem. Tentou balbuciar, tentando se defender.
Quanto mais indefesa ela parecia, mais irritado Bruno ficava.
Ele forçou ainda mais a cabeça dela para baixo e falou, frio:
— Já que a muda não sabe pedir desculpa falando, bate a cabeça no chão, então.
Mariana tentou levantar o rosto, mas a força nas costas a mantinha com a cabeça abaixada.
Mordeu os lábios até sangrarem, tomada por uma dor imensa.
Já tinha se ajoelhado para o céu, para a terra, para os pais...
Nunca imaginou que um dia seria forçada, pelo próprio marido, a se ajoelhar diante da ex dele e bater a cabeça no chão.