Mariana se levantou com dificuldade, mancando, e saiu do banheiro.
Queria pegar o celular do chão, afinal, não tinha dinheiro para comprar outro.
O sangue da testa escorria até os olhos, e ela quase caiu ao tropeçar no corredor.
Por sorte, sentiu duas mãos firmes amparando-a por trás.
Virando o rosto, deparou-se com o tio de Bruno, que olhou para ela cheio de angústia.
Ele tinha ido ao hospital para um exame de rotina.
— Mariana, como você se machucou desse jeito?
Mariana não esperava encontrar o tio ali, ficou sem jeito e baixou a cabeça.
Quanto mais ela tentava se esconder, mais ele sofria ao olhar para ela.
Logo entendeu de onde vinham aqueles machucados, só podia ser culpa do próprio sobrinho.
— Então foi aquele canalha que fez isso com você?!
Achava que tinha juntado dois jovens para um bom casamento, e agora percebia que só tinha empurrado Mariana para um pesadelo.
Levou Mariana até o pronto-socorro, cuidou de tudo para ela e depois foi embora.
Antes de sair, deixou apenas uma frase vaga, que ia dar um jeito em tudo para Mariana.
Mariana não entendeu nada.
Ficou ali, segurando o celular todo quebrado, meio atordoada.
— Então é aqui que você estava! Olha que trabalho me deu pra te encontrar.
Ela se virou e viu Luísa parada atrás dela, sabe-se lá há quanto tempo.
Luísa olhou Mariana de cima a baixo, toda molhada, e sorriu com ar de superioridade.
— Viu como o Bruno se preocupa comigo? Se fosse você, teria bom senso e sairia da vida dele por vontade própria. Senão, quando te chutarem de casa, vai ser muito mais humilhante.
Mariana apertou os lábios. Já tinha decidido ir embora, mas ouvir aquilo da boca de Luísa parecia especialmente cruel.
Guardou o celular e virou as costas, querendo evitar qualquer conversa.
Mas Luísa a segurou, irritada:
— Que jeito é esse? Tá se achando melhor do que eu? Ah, deixa pra lá... Não vou perder tempo com uma muda. Sei que gente como você não acha emprego fácil. Não diga que sou ruim, pega esse dinheiro e vai embora do Bruno agora.
Sem dar opção, Luísa enfiou um cheque na mão de Mariana.
Não era muita coisa, era só uns dez mil.
Mas para Mariana, aquilo já era uma fortuna.
Vendo a hesitação dela, Luísa debochou:
— Achou pouco? Nesses meses, você já tirou muita grana da família do Bruno. É melhor aproveitar enquanto dá.
Mariana tentou explicar, balançando as mãos e abrindo a boca. Mas não adiantava. Ela nunca tinha recebido nem um centavo além do dinheiro que ele mandava para o tratamento da irmã, e mesmo assim, já era grata demais.
Ela nunca teve coragem de pedir nada além do mínimo, sempre com medo de irritar Bruno.
Quis recusar o cheque, mas logo pensou melhor, sair da casa dele sem nenhuma renda seria um problema enorme, ainda mais agora, grávida, com tantas despesas pela frente.
Se Luísa queria mesmo pagar para se livrar dela, por que não aproveitar a oportunidade...?
Desde pequena, Mariana ouvira dos pais que não se deve aceitar o que não é seu. Pegar aquele dinheiro parecia errado, quase uma traição aos próprios princípios. Mesmo assim, vencendo a vergonha, acabou aceitando o cheque.
Prometeu a si mesma que, quando tivesse condições, devolveria cada centavo para Luísa.
Com todo cuidado, dobrou o cheque e guardou no bolso da roupa.
A Luísa ainda ficaria um tempo no hospital, e Bruno provavelmente não sairia de perto dela.
Aproveitar esse tempo para ir ao banco trocar o cheque era o melhor a fazer.
Decidiu voltar primeiro à casa dos Gomes para trocar de roupa, estava encharcada e não queria pegar um resfriado.
Ficar doente nem a preocupava tanto, mas não queria prejudicar o bebê.
A mansão era enorme, cheia de quartos, além da suíte principal.
Embora levasse o título de senhora da casa, Mariana só podia dormir no quarto de hóspedes. Só era chamada ao quarto principal quando Bruno queria usá-la para satisfazer seus desejos.
E, claro, assim que terminava, ele mandava Mariana de volta para o quarto de hóspedes.
Mariana tirou a roupa molhada e se secou com uma toalha.
Sem perceber, passou a mão pela barriga. Mesmo com a cintura ainda fina, ela sentia um certo encanto ao pensar que, ali dentro, estava crescendo uma nova vida.
Suspirou fundo. Por um lado, tinha esperança com a chegada do bebê, por outro, não conseguia deixar de duvidar se seria capaz de ser uma boa mãe.
Pegou uma roupa limpa e estava prestes a se vestir quando a porta do quarto de hóspedes se abriu de repente.
Bruno tinha voltado, sem que ela percebesse. Parou na porta, olhando Mariana completamente nua. Seus olhos se estreitaram por um instante.
O corpo de Mariana era delicado, a pele bem clara, e, ao ver o olhar de Bruno, ela ficou ainda mais nervosa, puxando o lençol para se cobrir, parecendo um passarinho assustado. Aquilo fez a garganta de Bruno secar por um momento.
Mas ele soube disfarçar, sem mostrar nenhuma emoção.
Falou em tom neutro:
— A mão da Luísa ficou bastante machucada. A responsabilidade é sua, de alguma forma. Não espero que você cuide dela direito, mas, a partir de hoje, vai cozinhar pra ela aqui em casa e eu mesmo levo a comida pro hospital. Entendeu?
Mariana, ainda envergonhada, assentiu rapidamente, se enfiando ainda mais debaixo do lençol, o rosto todo vermelho.
Bruno lançou mais um olhar sobre a pele exposta de Mariana, soltou um pouco a gola da camisa e já ia sair, quando, de repente, viu uma ponta de cheque aparecendo entre as roupas molhadas no chão.
Achou estranho, pegou para olhar, e a expressão fechou na hora.
— Mariana, você pediu dinheiro pra Luísa?