Mariana ficou gelada por dentro. Aquela mensagem já tinha sido enviada há uma hora, bem quando ela ainda estava desacordada.
Agora não podia mais se dar ao luxo de pensar em cautela, levantou depressa e correu em direção à porta, desesperada para sair dali. Mas, antes que conseguisse tocar na maçaneta, a porta se abriu com força.
O grupo de marginais entrou no cômodo, rindo e se arrastando pelo chão. E, no meio deles, para seu choque, estava Luísa.
Mariana arregalou os olhos, sem acreditar no que via. Por que Luísa faria uma coisa dessas com ela?
Seria tudo por causa do Bruno? Mas ela já tinha decidido ir embora, por que Luísa ainda precisava chegar a esse ponto?
Com o rosto fechado, Luísa deu a ordem:
— Comecem.
O rapaz de cabelo pintado fez um sinal e os outros imediatamente agarraram Mariana, forçando-a sentar numa cadeira.
Logo depois, o líder pegou uma câmera e ficou parado na frente dela.
— Olha, não vai dizer que a gente é mau, tá? Se colaborar, não sofre. Com um rostinho desses... fica até fácil, né?
O corpo de Mariana ficou arrepiado de medo. Ela olhou para Luísa, chorando em silêncio, implorando com gestos e sons, queria apenas sair dali e chegar logo ao hospital para ver a irmã.
Luísa nem tentou entender, nem tinha intenção de perdoar.
Só sem Mariana no caminho ela teria paz para ficar ao lado de Bruno, curtindo tudo que ser senhora Gomes podia oferecer.
Os caras cercaram Mariana com olhares cheios de intenção, passando as mãos por todo o corpo dela.
O desespero tomou conta dela, lágrimas caíam sem parar enquanto ela tentava empurrar as mãos deles, mas alguém segurou seu braço com força e, num movimento brusco, deslocou a articulação.
Mariana chorava em silêncio, o rosto coberto de dor, e de repente a imagem de Bruno passou por sua cabeça.
Mas logo veio a realidade amarga, como ele apareceria ali para salvá-la?
Num desespero profundo, pensou que preferia morrer a passar por aquela humilhação.
Reuniu o pouco de força que restava, pegou um pedaço de metal do chão e, sem hesitar, cravou na própria barriga.
Todos pararam, chocados.
O sangue escorreu denso, formando poças no chão. O rapaz de cabelo pintado gelou:
— Merda! A gente não quer matar ninguém!
Nem Luísa imaginava que Mariana teria coragem de ir tão longe.
Foi nesse momento que se ouviu o ronco de um carro vindo da rua, cada vez mais perto.
Assustada, Luísa abriu a janela e olhou para fora, ficou pálida na hora.
Por que Bruno estava ali?
— Peguem as coisas e sumam pelos fundos, agora! Depois eu pago vocês!
A turma fugiu, apavorada com a possibilidade de confusão.
Sozinha, arrasada, Mariana ficou ajoelhada no chão, a roupa rasgada, pressionando o ferimento que sangrava cada vez mais.
Luísa, completamente perdida, trocava de cor de minuto a minuto.
De repente, a porta foi escancarada, Bruno entrou com alguns seguranças.
Ao ver a cena, os olhos de Bruno se arregalaram, completamente incrédulos.
— Bruno... ainda bem que você chegou! Que susto! — Luísa foi rápida, já chorando e se jogando nos braços dele. — A Mariana me chamou pra vir até aqui, aí do nada ela pegou esse pedaço de metal e se machucou, depois tentou jogar a culpa em mim. Não sei o que ela queria fazer, de verdade!
O recado era claro, jogava para cima de Mariana a culpa pela própria violência, como se ela quisesse armar uma cena para incriminar Luísa.
Bruno olhou para Mariana, o rosto dela tão pálido que parecia de papel, e franziu a testa, inquieto.
Ia dizer alguma coisa, mas viu Mariana tentando se levantar, caía, levantava, caía de novo, sempre tropeçando, toda suja de poeira, enquanto o sangue só aumentava.
Ele não aguentou ver aquilo e foi até ela para ajudá-la. Mas, assim que Mariana o viu, a primeira reação dela foi se ajoelhar, agarrar a perna dele e, com gestos desesperados, implorar para que ele a levasse ao hospital.
Bruno não entendeu o que ela queria dizer.
Mariana, achando que ele estava se recusando, começou a bater a cabeça no chão com força, chorando alto, misturando lágrimas e sangue, que já escorria até os sapatos dele.
De repente, o celular dela tocou.
Mariana congelou, olhando para o aparelho com um vazio no olhar.
Pegou o telefone com as mãos trêmulas, abriu a mensagem mais recente:
“Srta. Mariana, sua irmã faleceu. Por favor, venha providenciar os trâmites.”
A última centelha de vida sumiu dos olhos de Mariana.
Na cabeça de Mariana, começaram a passar, de forma caótica, as lembranças dos últimos anos, ela e a irmã, sempre juntas, enfrentando o mundo sozinhas. Um dia, Mariana chegou a acreditar, com toda a ingenuidade, que se tentasse o bastante, a irmã iria melhorar.
Nunca pensou que, no fim, perderia também o último pedaço de família que tinha.
Bruno não percebeu nada diferente no olhar dela, ainda a acusou:
— Por que você armou pra trazer a Luísa pra cá?
Mariana levantou os olhos devagar, encarando ele. O rosto branco, marcado de sangue e lágrimas, transmitia um silêncio tão absoluto que parecia morto.
Ela não respondeu, só pensava em chegar ao hospital, nem que fosse para ver a irmã por um último instante.
Usando as mãos e os joelhos, se levantou, se apoiou na parede, e saiu mancando em direção à porta.
Bruno franziu a testa e tentou impedir, mas Mariana o empurrou com força.
Ele ficou paralisado, era a primeira vez que Mariana o rejeitava daquele jeito.
Aquela mulher, que sempre obedeceu tudo calada, agora tinha coragem de ir contra ele?
Mariana saiu, andando sem descanso.
Foi direto para o necrotério do hospital, viu a irmã pela última vez. Por dentro, sentia que já tinha morrido também, mas nem lágrimas conseguiu derramar.
Depois, fez um curativo rápido no hospital, voltou para casa, pegou a mala que já tinha arrumado havia dias.
A irmã tinha partido, Mariana recusou a oferta do tio de Bruno para ir embora do país, decidiu seguir sozinha.
Nem quis olhar para trás, nem um segundo a mais naquela mansão onde passou mais de meio ano. Nada ali merecia sua saudade.
Saiu andando pela noite, sumindo no vento, sem olhar para trás.