73 - Wick

O uniforme ainda me incomoda um pouco no corpo. Talvez por causa do tempo que passei longe dele. Talvez por tudo o que ele representa agora.

Caminho pelos corredores do quartel como quem volta a um lugar que deixou de pertencer. Os olhares não são hostis, mas também não são acolhedores. São de observação. De julgamento silencioso.

Paro em frente à sala do Tenente Almeida. Respiro fundo e bato na porta.

— Entra — ouço a voz firme lá de dentro.

Abro. O Tenente está à mesa, ao lado do Batista e do Diego. Nenhum deles sorri. Isso nunca é bom sinal.

Almeida vai direto ao ponto:

— Samuel, vamos economizar tempo. Temos que continuar com a missão.

— Otávio Portulla continua preso?

— Sim — Diego responde — mas vai ser solto em breve.

Sinto meu maxilar travar.

Ainda estou com o envelope nas mãos quando o Tenente me lança o segundo golpe.

— Samuel… pra isso funcionar, a gente vai precisar de uma peça-chave.

Meu instinto já sabe a resposta antes mesmo da pergunta ser feita. Meu corpo endurece.

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