O cheiro de fumaça e esgoto se mistura com a umidade da noite. O silêncio nunca é total aqui. É uma sinfonia constante de cães latindo ao longe, funk abafado vindo do vale e o barulho lento das goteiras. Mas esta noite, a sinfonia é a minha.
Eu estou agachado no telhado vizinho, um ponto alto o suficiente para ter a visão da casa de Gabriel. Meu corpo está coberto de preto, e meus pés se movem com a leveza de anos de experiência. Sou uma sombra na escuridão que me criou.
O Subcomandante Barros não gosta de mim. Samuel não confia totalmente em mim. Mas aqui, nesta mistura de telhas e gambiarras elétricas, eu sou a única garantia que o Patrão tem de reaver a Patroa.
No rádio de pulso, que só Murilo e Samuel têm a frequência, ouço o tique-taque. O helicóptero adaptado está a um minuto de atingir a altitude de standby na crista do morro, onde o ruído será mínimo.
Vinte e três horas em ponto.
Silêncio.
O pop elétrico não é ouvido, mas sentido. Todas as luzes se apagam. Não só a da casa de