A noite cai devagar, tingindo o céu de azul escuro. As ruas ainda me parecem diferentes, como se tivessem se transformado nos anos em que fiquei fora. Ou talvez quem tenha mudado tenha sido eu.
Estaciono a moto velha que o Batista me emprestou em frente ao boteco de sempre. O letreiro ainda está torto. A calçada, quebrada. Mas o cheiro… o cheiro é o mesmo. Cerveja barata, carne de sol e passado.
Entro, e antes mesmo de localizar a mesa, ouço a risada alta do Diego.
— Aêêê, olha só quem resolveu vir! — ele grita, erguendo o copo. — Se eu soubesse que ia aparecer hoje aqui, tinha comprado uma faixa de “bem-vindo, ex-presidiário”.
— Vai se foder — respondo, rindo baixo.
O Batista levanta e me abraça de verdade, com aquele aperto de quem sabe o peso das coisas.
— Irmão… que bom te ver fora. De pé. Inteiro.
— Inteiro até onde dá — respondo, sentando com eles. — Ainda tô me acostumando a respirar ar sem grades.
A cerveja chega rápido, como sempre. O Diego não perde tempo:
— E aí? Conta. Foi