A manhã é clara demais para o tanto que meu corpo ainda carrega. O sol invade o quarto do hospital com uma força que contrasta com o que sinto por dentro: um cansaço que não passa, uma inquietação que não me larga.
A pressão já está estabilizada. Os exames não apontaram mais riscos.
Quando a porta do quarto se abre, sei antes mesmo de olhar quem é. O perfume amadeirado, a postura rígida. Otávio entra com passos firmes, como se não estivesse prestes a desmontar por dentro.
— Está pronta? — ele pergunta seco, sem sorrir, sem olhar diretamente nos meus olhos.
Assinto devagar. Dona Helena segura minha mão, como se dissesse em silêncio eu vou com você. Ayla se aproxima também, tentando forçar um sorriso, mas até ela parece receosa.
— A médica já me passou tudo — ele continua. — Cuidados, alimentação, repouso. Lá em casa você vai ter isso tudo, não se preocupe.
Lá em casa. Essas palavras grudam na minha garganta.
Não é minha casa. Nunca foi.
— Posso levar a Dona Helena comigo? — pergunto,