O calor sufoca. A escuridão parece mais densa hoje. Ou talvez seja meu peito que está mais pesado, tentando respirar entre as memórias que me esmurram por dentro.
Estou sentada no colchão fino, com o lençol manchado de sangue dobrado ao meu lado. Meu pescoço ainda arde onde a Anne arranhou, mas é por dentro que sangra mais.
Fecho os olhos, mas não encontro paz nem quando não vejo nada. A imagem da foto, das palavras da Anne, do rosto do Samuel antes de apagar no corredor... tudo volta como uma avalanche. Me obrigando a lembrar que nada do que eu acreditava era real.
Mas então... Algo me tira desse torpor.
Um ruído.
Baixo. Um arranhar de metal. Vem da lateral da jaula. Levanto a cabeça, alerta.
Mais um som. Uma batida seca.
Depois, passos. A porta do porão se abre.
Congelo.
A luz fraca da escada desce como uma lâmina, cortando a escuridão em duas. Prendo a respiração, tentando ouvir além do som dos meus próprios batimentos.
Dois pares de passos. Um é pesado, firme. O outro... mais lev