A dor vem antes da consciência. Um latejar surdo, profundo, que pulsa na parte de trás da minha cabeça como se meu próprio crânio estivesse tentando se abrir. Tento mexer o braço. Pesado. Lento. Depois tento abrir os olhos, mas a claridade me atinge como uma navalha.
O ar está diferente. Úmido, abafado. O cheiro de cloro, poeira e madeira velha me invade as narinas.
Onde eu estou?
Me esforço pra sentar, mas é aí que percebo, os braços estão presos. Alguma merda de algema ou corda grossa me prende ao encosto de uma cadeira. As pernas também. A base de cimento frio sob os pés. Ouço o som de goteiras pingando em algum canto. A umidade das paredes denuncia o lugar.
A casa da piscina.
— Filho da puta... — sussurro, com a voz rouca, a garganta seca como se eu tivesse engolido terra.
A cena volta como uma lâmina:
A voz feminina.
O estalo.
O apagão.
Anne.
A porra da Anne.
E o… o Gabriel.
Meu corpo tenta se mover por instinto, mas não tem espaço. Sinto a raiva crescendo, fervendo por baixo