Abro a porta de casa e o silêncio me atinge primeiro. Dou dois passos para dentro e Ayla está sentada no sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas, como se estivesse rezando em silêncio. O cabelo dela está preso num coque bagunçado, e ela usa uma camiseta larga com uma estampa desbotada do Pato Donald. Por um segundo, não sei se entrei na casa certa ou se o tempo resolveu me pregar uma peça.
Mas quando ela levanta o rosto e me vê…
— Puta que pariu — ela solta, com os olhos arregalados como se estivesse vendo um fantasma.
Levanta do sofá num pulo. Eu ainda estou com o corpo meio travado pela dor no maxilar e o peso do dia, mas não dá tempo de dizer nada.
Ela atravessa a sala em três passos e me abraça com força. Do tipo de abraço que não pede permissão nem avisa que vai chegar. É puro impulso. É genuíno.
Demoro um segundo para reagir, mas logo meus braços envolvem o corpo pequeno dela. Sinto o cheiro adocicado do creme de cabelo.
— Caralho, você está vivo… — ela diz con