Chego ao batalhão com o rosto latejando e as pernas pesadas. O sol me cega por um instante quando desço do carro, e o calor do asfalto parece grudar nas minhas botas como se o inferno estivesse logo abaixo. Passo a mão no supercílio cortado, sentindo a casca fina que já começa a se formar sobre o corte. O olho esquerdo ainda está inchado, roxo, pulsando. Um lembrete da noite infernal que eu vivi.
Antes de passar pelo portão, me viro um instante e olho para o carro que me trouxe até aqui. A janela abaixa, revelando o rosto da subtenente Julia Mendes. Ela segura o volante com firmeza, mas me encara com aqueles olhos castanhos que parecem ler mais do que deveriam.
— Obrigado pela carona... e por ontem. — minha voz sai um pouco rouca, mas firme.
Ela balança a cabeça, séria, e depois solta um leve sorriso de canto.
— Você tem uma dívida comigo, Portulla.
— Pode cobrar depois. — forço um meio sorriso de volta.
— Tenta não morrer até lá. — ela diz, antes de acelerar e sumir no final da rua.