Mundo ficciónIniciar sesiónAurora acordou mais cedo do que o habitual. Passara a noite inteira pensando no contrato que agora a ligava a Ethan Vesper… e na forma como ele a olhara no corredor, como se pudesse atravessar as camadas que ela própria passara anos construindo.
Era desconfortável. E, ao mesmo tempo, impossível de ignorar. Quando chegou à Vesper Corp, a secretária personalíssima dele — uma mulher de coque impecável e olhar treinado — a conduziu até o 49º andar. O elevador abriu com um silêncio quase reverente. O escritório dele parecia outro mundo. Vidros translúcidos, aço, sombras e… ele. Ethan estava encostado à mesa, camisa branca dobrada nos antebraços, o relógio discretamente caro reluzindo. Parecia que o mundo inteiro se calava quando ele respirava. — Aurora — disse ele, sem desviar o olhar. — Entre. Ela entrou. Disfarçadamente, respirou fundo. — Temos muito a resolver — continuou ele, caminhando na direção dela. — Mas antes, quero entender uma coisa. Aurora ergueu o queixo. — O quê? Ele parou diante dela, próximo demais, tão próximo que ela pôde sentir o perfume dele — algo amadeirado, frio e proibido. — Por que estava tão nervosa ontem? Ela riu, nervosa. — Não estava nervosa. Ethan inclinou a cabeça, avaliando cada detalhe do rosto dela, como se pudesse desmontá-la peça por peça. — Você mente mal — murmurou. O tom dele… não era acusador. Era quase… provocante. Aurora desviou o olhar, mas sentiu o sorriso dele — um que ele provavelmente não mostrava a ninguém no mundo dos negócios. — Quero começar com o que realmente importa — ele disse, voltando-se para a mesa. — Sua herança foi colocada em risco. Alguém dentro da sua família falsificou documentos. Aurora sentiu o estômago despencar. — Quem? — Ainda não posso dizer. Mas posso garantir… — ele se aproximou novamente, desta vez mais devagar. — Que ninguém vai tirar nada seu enquanto você estiver sob minha proteção. “Proteção.” A palavra caiu sobre ela como um toque. É perigoso, Aurora pensou. Ele é perigoso. Mas era o tipo de perigo que fazia o coração dela disparar. Ethan passou ao lado dela para pegar um arquivo — e sua mão roçou a dela. Leve, acidental… ou talvez não. Ela sentiu o choque subir pelo braço, quente e involuntário. Ethan parou. Olhou para o ponto onde os dedos se tocaram e depois para o rosto dela. — Está tremendo? — a voz saiu baixa. — Não estou — ela sussurrou, mesmo sabendo que estava. Ele sorriu pela primeira vez — um sorriso lento, quase imperceptível, mas devastador. — Vai mentir assim o tempo todo? — perguntou, inclinado para ela. — Porque… posso ensinar você a mentir melhor. Aurora piscou, sem saber se ele brincava ou a desafia. — Não preciso das suas aulas — murmurou. — Não? — Ele deu um passo ainda mais próximo. — Eu acho que precisa. Ela sentiu o rosto esquentar, mas manteve a postura, mesmo com o coração descompassado. — Eu vim aqui para resolver a herança — ela disse. — Não para… isso. Ele arqueou uma sobrancelha. — “Isso”? — repetiu. — Não sabia que tínhamos… “isso”. Ela quase engasgou. Ethan soltou um riso discreto — e voltou à mesa como se nada tivesse acontecido. Mas Aurora sabia muito bem: algo havia mudado. Os flertes eram sutis, perigosos, escondidos em cada palavra, em cada silêncio. E, pela primeira vez, ela percebeu que não tinha medo dele. Tinha medo do que estava começando a sentir






